Subir nas tamancas com os olhos esbugalhados, o rosto arroxeado e o dedinho em riste é cena que se vivencia até nas famílias mais bem comportadas.
Quando o espetáculo se circunscreve ao ambiente familiar, tudo bem, pois entre os casais, à noite, um pezinho, como quem não quer nada, escorrega para o outro lado da cama, pinta um clima, e tudo começa a se resolver.
Com pais e filhos, irmãos, salvo muitíssimas e não tão raras exceções, como há amor no relacionamento, em pouco tempo a raiva desanuvia e a paz retorna quase sem seqüelas.
O enredo do filme já deixa de ser o mesmo quando os envolvidos são estranhos, ou não há amor na relação. Ficam bicudos,um vira a cara para o outro e, nos casos mais graves, transformam-se em inimigos.
Depois de algum tempo o motivo desaparece e só fica a mágoa com a lembrança de que algo ruim aconteceu no passado. Se perguntar por que estão brigados, talvez até nem saibam responder.
Estou me referindo principalmente ao destempero e à reação precipitada das pessoas que não pensam duas vezes antes de rodar a baiana.
Na primeira oportunidade, sem nenhuma reflexão, gritam, esbravejam, abrem a mala e soltam as cobras e lagartos que levam de prontidão.
São indivíduos que perdem totalmente o controle e não conseguem se acalmar sem antes despejar uma boa quantidade de bílis naqueles que ousaram contrariá-los.
Eu sei que a maioria não tem sangue de barata e que engolir sapo ou levar desaforo para casa é privilégio de quem fez pós-graduação na escola de santo - e olhe lá, porque conheço muito santinho por aí que na segunda esperneada já está guardando a auréola na gaveta.
Esse comportamento destemperado e irrefletido pode produzir conseqüências muito graves na vida pessoal e nas relações do ambiente corporativo.
Tomar uma decisão impensada, num momento de raiva, apenas para se vingar de ofensas recebidas ou porque foi contrariado, não é um comportamento inteligente.
Se você agir tomado pela emoção descontrolada, num acesso de cólera, no dia seguinte, muito provavelmente, estará arrependido e batendo a cabeça na parede.
Meu querido amigo Gunter Murrins, um dos empresários mais bem sucedidos do ramo gráfico que conheci em toda a vida, disse ter aprendido com um antigo chefe, seu Vilela, que decisões importantes que pudessem envolver muito dinheiro ou mexer com a vida das pessoas, precisariam no mínimo de uma boa noite de sono.
Só como exemplo,contou-me que um guarda de sua empresa aprontara poucas e boas e precisava ser dispensado. Pondo em prática sua filosofia da reflexão noturna, deixou para o dia seguinte a demissão do funcionário.
Ao chegar à empresa pela manhã confirmou que acertara na decisão, pois, por um ou outro motivo, todos os outros guardas haviam faltado, e se no impulso tivesse demitido o funcionário teria ficado em maus lençóis.
Eu mesmo já adquiri o hábito de ter a noite como parceira das minhas decisões. Por diversas vezes escrevi e-mails na base da adrenalina raivosa, mas antes de enviá-los tive a prudência de botar a cabeça no travesseiro e adiar o envio dos impropérios para o dia seguinte - Nem preciso dizer como teria me arrependido se tivesse seguido meus impulsos e enviado a mensagem de maneira irrefletida.
Por isso, pense bem antes de comunicar uma decisão importante. E se, depois de refletir bem, achar que poderia aguardar mais um dia antes de tomar a atitude, principalmente se estiver com muita raiva, revoltado ou indignado com o comportamento de alguém, espere passar a noite e, talvez, no dia seguinte se surpreenda com sua nova disposição mais equilibrada e conciliadora.
Cá entre nós, é muito mais fácil dizer o que fazer. Mas, ao falar com você eu também vou aprendendo e quem sabe continue a esperar uma noite antes de dizer o que não devia, isto é, aprenda cada vez mais a deixar para amanhã o que não deveria dizer hoje.
Reinaldo Polito
Mestre em Comunicação Social e pós-graduado em Administração Financeira é palestrante e autor de 12 livros, entre eles 'Como falar corretamente e sem inibições'
Site: www.reinaldopolito.com.br
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