domingo, 7 de fevereiro de 2010

Carnaval em Salvador - História


Origem do nome Carnaval

São varias as versões sobre a origem da palavra Carnaval. No dialeto milanês, Carnevale quer dizer "o tempo em que se tira o uso da carne", já que o Carnaval é propriamente a noite anterior à Quarta-Feira de Cinzas. No Brasil, o evento é a maior manifestação de cultura popular, ao lado do futebol. É um misto de folguedo, festa e espetáculo teatral, que envolve arte e folclore. Na sua origem, surge basicamente como uma festa de rua. Porém, na maioria das grandes capitais, acaba concentrado em recintos fechados, como sambódromos e clubes.

Viagem no Tempo


A origem do Carnaval vem de uma manifestação popular anterior à era Cristã, tendo se iniciado na Itália com o nome de Saturnálias - festa em homenagem a Saturno. As divindades da mitologia greco-romana Baco e Momo dividiam as honras nos festejos, que aconteciam nos meses de novembro e dezembro.

Durante as comemorações em Roma, acontecia uma aparente quebra de hierarquia da sociedade, já que escravos, filósofos e tribunos misturavam-se em praça pública. Com a expansão do Império Romano, as festas tornaram-se mais animadas e freqüentes. Na época ocorriam verdadeiros bacanais.

No início da era Cristã, começaram a surgir os primeiros sinais de censura aos festejos mundanos na medida em que a Igreja Católica se solidificava. Querendo impor uma política de austeridade, a igreja determinava que esses festejos só deveriam ser realizados antes da Quaresma.

Os italianos adotaram, então, a palavra Carnevale, sugerindo que se poderia fazer Carnaval - "ou o que passasse pelas suas cabeças" antes da Quaresma, numa espécie de abuso da carne.

A festa chegou a Portugal nos séculos XV e XVI, recebendo o nome de Entrudo - isto é, introdução à Quaresma, através de uma brincadeira agressiva e pesada. O evento tinha uma característica essencialmente gastronômica e era marcado por um divertimento entremeado com alguma violência. Fazia-se esferas de cera bem finas com o interior cheio de água-de-cheiro e depois atirava-se nas pessoas.

Os mais ousados, no entanto, começaram a injetar no interior das "laranjinhas ou limões-de-cheiro", substâncias mau cheirosas e impróprias e a festa foi perdendo sua alegria. Foi exatamente esse Entrudo violento que aportou no Brasil.

Na segunda metade do século XIX, o jornal Diário da Bahia e a Igreja Católica criticavam e pediam providências às autoridades policiais contra o Entrudo. Quando se aproximava o domingo anterior à Quaresma, todo mundo "entrudava". 

Apareciam pelas ruas em forma de bandos os "Caretas" envoltos em cobertas, esteiras de catolé, folhas de árvores e abadás - uma espécie de camisa de manga curta bastante folgada, atingindo a curva dos joelhos, que os negros usavam. No Entrudo, molhava-se quantos andassem pelas ruas, invadia-se casas para molhar pessoas e não se importava que fosse gente doente ou idosa.

Em 1853 o Entrudo passou a ser reprimido com ordens policiais. Mesmo assim, as "laranjinhas" e gamelas com água continuavam existindo. Foi exatamente neste período que o Carnaval começou a se originar de forma diferente, dividindo-se em duas classes: o Carnaval de Salão e o Carnaval de Rua. 

O Carnaval de Salão tinha a participação de brancos e mulatos de classe média; o Carnaval de Rua, contava com negros e mulatos pobres.

Em 1860 o Teatro São João começou a realizar arrojados bailes de mascarados, na noite de sábado, iniciando as festas com músicas baseadas em trechos da ópera italiana "La Traviata". 

Em seguida, eram tocadas valsas, polcas e quadrilhas. O evento contava com a participação das pessoas de bom nível social, que trocavam os bailes realizados em suas casas pelo do teatro.

Na época, havia o perigo do homem formado e do negociante serem vistos mascarados. Em razão disso, casas de fantasias e cabeleireiros, como os famosos "Pinelli" e "Balalaia" mantinham especialistas em disfarces.

Como os bailes carnavalescos não estavam ao alcance de todos, nem de acordo com a moral de muitos, era necessário estimular a sua ida para a rua. Por isso, os sub-delegados foram autorizados a distribuir gratuitamente máscaras a quem quisesse brincar o Carnaval. 

Várias comissões passaram a ser nomeadas pelo chefe de polícia e a comissão central, juntamente com outras comissões paroquianas que distribuíam máscaras, facilitavam a aquisição de outros adereços, bem como a providência de banda de música. Os comerciantes logo aderiram à idéia de olho no melhor faturamento, e começaram a adotar o Carnaval em substituição ao Entrudo.

Em 1870 os mascarados avulsos, estimulados pela polícia, e os bailes públicos começaram a ganhar terreno, embora o Entrudo ainda se mantivesse vivo. O ambiente para a realização do Carnaval passou a ficar melhor com o surgimento do "Bando Anunciador", que saía às ruas convidando todos para os festejos.

Nos clubes e teatros, foram surgindo competições entre os grupos e famílias que ostentavam roupas e jóias para mostrar quais associações e entidades eram mais elegantes e grã-finas. O pioneiro Teatro São João passou a organizar seus bailes com um ano de antecedência.

Em 1878, o grupo de Carnaval de rua, "Os Cavaleiros da Noite", aparecia pela primeira vez num salão em grande forma, no Teatro São João, causando um verdadeiro "ti, ti, ti". Dois anos depois - com um número maior de bailes por toda a cidade -, Salvador contava com 120 mil habitantes, que concentravam recursos financeiros e grande poder político. 

Havia, portanto, dinheiro, poder e fartura, e todo esse esplendor passou, então, a ser retratado nos salões e bailes de Carnaval. Só para se ter uma idéia, as roupas, adereços, enfeites, chapéus, bebidas, jóias, sapatos e meias usadas nas festas eram importadas das melhores casas de Paris e Londres.

Cinco anos antes da Proclamação da República, a cidade, habitada por cerca de 170 mil pessoas, organizou o seu primeiro grande Carnaval de rua. Era uma festa com grande influência européia, como quase tudo o que existia no Brasil naquela época, com luxo, requinte e comentários elogiosos. 

Fortemente influenciado pelo requintado Carnaval de Veneza, na Itália, e mesclando a presença de tipos do popular Carnaval de Nice, na França, o Carnaval de Salvador deu o primeiro passo rumo à popularização com a participação de muita gente nas ruas.

Ao mesmo tempo, palanques e bandas de música proliferavam na cidade. Surgiam também vários clubes uniformizados, como "Zé Pereira", "Os Comilões" e "Os Engenheiros", fantasiados com "Cabeçorras" e outras máscaras. Como as comemorações cresciam, convencionou-se que o Campo Grande seria o lugar para os mascarados se reunirem nos dias de Carnaval e, de lá, saírem em bandos.

Em 1882, o comércio iniciou o costume de fechar as portas na terça-feira de Carnaval, a partir das 13 horas. O Carnaval de máscaras e o desfile dos clubes, ficavam então, mais animados depois das 14 horas.

O Grande Carnaval de 1884


O ano de 1884 é considerado como o marco decisivo para o Carnaval da Bahia. Embora a festa já possuísse considerável porte - principalmente nos salões - é nesse ano que teve início a organização dos festejos de ruas e os desfiles de clubes, corsos, carros alegóricos e de vários populares. 

A partir daí ocorre a intensificação da participação do povo e aclamação do Carnaval de rua, que até hoje caracteriza esta festa na Bahia.

O Carnaval de 1884 pegou Salvador num período de crescimento rápido, provocado pelo progresso da agricultura em outras regiões e pelas exigências de um melhor ordenamento do espaço urbano com o êxodo rural. Respirava-se progresso e os comerciantes já utilizavam a publicidade nos jornais durante a festa. Tanto as pessoas que se fantasiavam como as que esperavam o cortejo vestiam-se a rigor, algumas em ternos de linho, polainas e chapéus.
Fundado em 1º de março de 1833, o Clube Carnavalesco Cruz Vermelha só veio a participar do Carnaval em 1884. O clube organizou um cortejo com rapazes e moças ricamente trajados e a novidade foi a presença de um carro alegórico, com o tema "Crítica ao Jogo de Loteria", ricamente decorado com peças importadas da Europa. O cortejo saiu de uma das ruas do Comércio, subiu a Montanha, passou em frente à Barroquinha, rua Direita do Palácio (rua Chile), Direita da Misericórdia, Direita do Colégio e retornou rumo ao Politeama de Baixo (Instituto Feminino).
A iniciativa foi um verdadeiro sucesso e ganhou milhares de aplausos e pétalas de flores dos populares que se encontravam nas ruas. O Cruz Vermelha mudou basicamente o Carnaval.
Em março de 1884, um grupo de jovens fundou o Clube Carnavalesco Fantoches da Euterpe.
O grupo era encabeçado por quatro figuras da alta sociedade: Antônio Carlos Magalhães Costa (bisavô de ACM), João Vaz Agostinho, Francisco Saraiva e Luís Tarquínio. (seu primeiro presidente) .
Em 1885, a disputa entre os dois clubes foi ainda maior. O Diário de Notícias, o jornal mais influente da época, publicou um anúncio de um quarto de página, a pedido do Cruz Vermelha, descrevendo a sua passeata. 

O Fantoches reagiu publicando o seu programa de festas em três colunas. Ambos foram às ruas com temas maravilhosos e indumentárias vindas da Europa. O carro-chefe do Cruz Vermelha apresentava "A Fama" e o Fantoches, "A Europa". Desfilaram também outros clubes, como "Saca Rolhas", "Cavalheiros de Malta", "Clube dos Cacetes" e "Grupo dos Nenês".

Na época, não havia uma comissão julgadora para estabelecer quem vencia os desfiles e o julgamento era determinado pela imprensa, que media a aprovação da população através dos aplausos. O Cruz Vermelha, mais popular, sempre vencia, pois o Fantoches, mais ligado à aristocracia, tinha uma torcida bem menor. Todas as outras entidades representavam a classe média.

Em 1886, os negociantes resolvem não mais abrir o comércio na terça-feira de Carnaval. Os presidentes dos grandes clubes reuniram-se na Associação Comercial com o objetivo de estudar um itinerário único para todos os préstitos.

Dois anos depois, a cidade teve um dos carnavais mais famosos. O Cruz Vermelha e o Fantoches, deram em conjunto um grandioso baile no Politeama. Chegou, enfim, o dia do grande domingo de Carnaval. E havia muita gente pelas ruas; nas janelas, o que mais imperava na cidade era a ansiedade. O primeiro préstito a surgir foi o Cruz Vermelha com coordenação, esplendor e luxo. 

A multidão vibrava atirando flores sobre os carros. O segundo a desfilar foi o préstito do Fantoches, com a sua magnífica decoração dos carros alegóricos, a graça, o luxo e o gosto artístico, que justificavam o delírio de todos. Resultado: Fantoches e Cruz Vermelha desfilando sobre chuvas de rosas. O Carnaval já era uma verdadeira atração, uma realidade conseguida com muita luta e anos de esperança e já se podia afirmar que o vencera definitivamente o Entrudo.

Em 1892 é introduzido no Carnaval do país, o uso de confetes e serpentinas. Os confetes eram usados em retalhadas entre algumas entidades carnavalescas da época; as serpentinas vieram para substituir as flores atiradas aos carros alegóricos.
Em 1894, o Carnaval era eminentemente da elite dos clubes Cruz Vermelha, Fantoches e outros, que desfilavam pelas ruas e freqüentavam os bailes dos Teatros São João e Politeama. A população pobre continuava a fazer apenas algumas manifestações.

O Primeiro Afoxé 


Em 1895, os negros nagôs organizaram o primeiro afoxé, denominado "Embaixada Africana", que desfilou com roupas e objetos de adorno importados da África.

Em 1896, surgiu, então, o segundo afoxé, o "Pândegos da África", organizado também por negros. Os grupos representavam casas de culto de herança africana e saíam às ruas cantando e recitando seqüências de músicas e letras.

Os afoxés exibiam-se na Baixa dos Sapateiros, Taboão, Barroquinha e Pelourinho, enquanto os grandes clubes desfilavam em áreas mais nobres.

Nove anos mais tarde, um outro afoxé rompeu este tácito compromisso e subiu a Barroquinha e a Ladeira de São Bento, gerando protestos em que se lastimou a quebra deste pacto não escrito da divisão espacial de classes e de ritmos no Carnaval. Neste momento, verificava-se na cidade uma divisão espacial muito séria.

Dissidentes do Cruz Vermelha, fundaram, em 1900, o Clube Carnavalesco "Os Inocentes em Progresso". O nome do clube foi inspirado em um bando de meninos que passavam no local cantando e tocando em latas.



Em 1949, ano do IV Centenário de fundação da cidade de Salvador, é fundado o afoxé "Filhos de Gandhy" pelos estivadores do Porto de Salvador, como forma de homenagear o grande líder pacifista indiano assassinado em 1948, o Mahatma Gandhy.


Surge o Trio Elétrico

 

Em 1950, surgiu, então, a famosa dupla elétrica. Após observarem o desfile da famosa "Vassourinha", entidade carnavalesca de Pernambuco que tocava frevo na Rua Chile, e empolgados com a receptividade do bloco junto ao público, a dupla elétrica formada por Adolfo Antônio Nascimento - Dodô - e Osmar Álvares de Macêdo - Osmar - resolveu restaurar um velho Ford 1929, guardado numa garagem. 

No Carnaval do mesmo ano, saiu às ruas tocando seus "paus elétricos" em cima do carro e com o som ampliado por alto-falantes. 

A apresentação aconteceu às cinco horas da tarde do domingo de Carnaval, arrastando uma multidão pelas ruas do centro da cidade.

O nome trio elétrico surgiu em 1951, quando, pela primeira vez, apresentou-se no Carnaval um conjunto de três instrumentistas. A "dupla elétrica" convidou o amigo e músico Temístocles Aragão para integrar o trio e tocar nas ruas de Salvador numa picape Chrysler, modelo Fargo, maior que a "fobica" do ano anterior, em cujas laterais se liam em duas placas: "O trio elétrico".

Osmar tocava a famosa "guitarra baiana", de som agudo; Dodô era responsável pelo "violão-pau-elétrico", de som grave, e Aragão, pelo "triolim", como era conhecido o violão tenor, de som médio. Estava formado o trio musical.

Surge em 1961, o primeiro desfile público do Rei Momo, papel desempenhado pelo motorista de táxi e funcionário público Ferreirinha.

No ano seguinte, surgiu o primeiro grande bloco de Carnaval, denominado "Os Internacionais", composto apenas por homens. Nesta época, a todo instante "pipocava" um trio elétrico novo, mas os blocos iam para as ruas acompanhados somente de baterias ou grupos de percussão. 

Foi aí que também apareceram as famosas cordas e as mortalhas para brincar o Carnaval. Em 1965 por decreto presidencial é proibido o fabrico, a comercialização e o uso do lança-perfume, introduzido em nosso Carnaval desde 1906, importado inicialmente da França e depois da Argentina.


Fonte: Portal do Carnaval

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