Os pais são os primeiros a terem a oportunidade de apresentar o universo da escrita aos filhos |
Como criar um ambiente favorável
para despertar e ajudar seu filho a manter o gosto pela escrita
Para qualquer lugar que se olhe é
possível perceber: vivemos em um mundo letrado. Nomes de lojas, indicações no
trânsito, anúncios, destinos de ônibus, embalagens de produtos, na caixa do
brinquedo, no videogame, as letras estão por toda a parte, dentro e fora de
casa. E por isso, o contato das crianças com a escrita acontece muito antes de
isso ser trabalhado formalmente na escola.
São os pais, portanto, os
primeiros a terem a oportunidade de apresentar esse maravilhoso universo a seus
filhos e ajudar a tornar a escrita, mais do que algo prático, em um prazer. Não
se trata, no entanto, de assumir a missão de ensinar o filho a escrever. Apenas
criar (e manter) uma boa base para o trabalho que a escola fará depois.
"Tão importante quanto um
ambiente que seja favorável e estimule a curiosidade é o respeito ao ritmo da
criança. Não é saudável a ansiedade em ver o filho escrevendo precocemente,
pois isso gera uma pressão que poderá levar a um desinteresse mais para
frente", comenta Sonia Maria Sellin Bordin, fonoaudióloga doutorada pela
Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Mesmo após o período de
alfabetização, há muito o que fazer em casa. "É preciso trazer a escrita
para a rotina e envolver a criança em situações nas quais ela é
utilizada", defende Silmara Carina Munhoz, doutora em psicologia e
professora da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília).
As duas especialistas apresentam
dicas de como despertar e ajudar seu filho a manter o gosto pela escrita.
Leia os itens abaixo:
Repensar a própria relação com a
escrita
-Para que o estímulo seja efetivo
ele deve vir de alguém que tenha real envolvimento com a escrita. "É
preciso deixar de encarar a escrita como um bicho-papão, enfrentar seus
próprios medos e limites. Caso contrário é como alguém que não gosta de
brócolis querer convencer o filho de que brócolis é gostoso", afirma
Silmara Carina Munhoz, doutora em psicologia e professora da Faculdade de
Educação da UnB (Universidade de Brasília). "Quem tem dificuldades ou
receios pode aproveitar o momento para vencê-los junto com a criança e criar
novos hábitos relacionados ao ato de escrever".
Saber que tudo começa com a
leitura
-Quem lê bastante escreve bem.
Seguir as recomendações de como incentivar o gosto pela leitura é também
estimular a escrita.
Criar um ambiente no qual regras
são seguidas
-Para escrever é necessário
seguir regras. "Não posso escolher qualquer letra para escrever a palavra casa. É preciso
seguir a convenção
estabelecida e isso é mais
facilmente compreendido por quem está acostumado com regras", diz Sonia
Maria Sellin Bordin, fonoaudióloga doutorada pela Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas).
O ideal, então, é envolver a
criança na dinâmica familiar, indicando que ela, assim com os demais membros da
família, possui deveres. "Para os pequenos pode ser algo simples como
colocar o travesseiro no armário. O importante é que haja algo e isso vá se
ampliando conforme as condições de cada faixa etária", explica.
Usar a escrita rotineiramente
-Manter papel e lápis ao alcance
de todos da casa e não perder a oportunidade de usá-los nunca. "Chegou
tarde em casa e o filho já estava dormindo? Deixe um bilhete dizendo que você
passou no quarto dele para dar um beijo de boa noite", exemplifica Silmara
Carina Munhoz, doutora em psicologia e professora da Faculdade de Educação da
UnB (Universidade de Brasília).
Outro bom momento é a hora de
fazer a lista de compras do supermercado, que pode ser escrita de forma conjunta,
até mesmo pelos menorzinhos (que podem "anotar" desenhando ou
rabiscando que é preciso comprar sua bolacha favorita).
Promover jogos e atividades com
escrita
-Sua filha é fã de um ator ou
grupo musical? Que tal, juntas, procurar fotos e informações e escrever um
perfil dele? O menino torce para um time de futebol? Chame-o para fazer como
você um cartaz do time, com as principais conquistas e jogadores famosos. Ou
seja, a sugestão é aproveitar os assuntos de interesse para produções escritas.
"Mas é importante que isso
não se torne uma obrigação. E é para ser feito a quatro ou mais mãos, de forma
prazerosa. Não pode ser uma tarefa que a mãe passa para o filho fazer sozinho e
que irá cobrar depois", ressalta Sonia Maria Sellin Bordin, fonoaudióloga
doutorada pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Valorizar a produção
-"As primeiras tentativas da
criança serão rabiscos. Ela fará um garrancho e irá dizer que desenhou a mãe, o
pai, a avó. É preciso reconhecer este grande passo que é entender que um
símbolo pode representar algo e não desestimular dizendo que aquilo não é o
desenho de uma pessoa", diz Silmara Carina Munhoz,
Isso vale para todos os momentos
da escrita. Receber um bilhete e logo apontar que há erros como a falta de uma
letra em uma palavra ou que, por exemplo, "casa" não é escrito com
"z", só irá reduzir a espontaneidade da criança.
Ao contrário, é preciso adotar
pequenos gestos, como guardar um desenho ou um bilhete da criança, ou
acompanhar o que o filho escreve em blogs ou nas redes sociais e interessar-me
pela poesia que ele criou. "Isto mostra que você valoriza esta forma de
comunicação", comenta a doutora em psicologia e professora da Faculdade de
Educação da UnB.
É importante também que os pais
também produzam e compartilhem suas criações.
Preocupar-se com a caligrafia na
medida certa
-Não é preciso exigir do seu
filho excessos de capricho na letra. O importante é que seja possível entender
o que ele quis escrever. Caso a letra prejudique o entendimento, vale chamar a
atenção. "Um modo bastante prático é deixar um bilhete com um assunto de
interesse de seu filho com trechos impossíveis de ler por causa da letra. Ele
perceberá como isso atrapalha a comunicação", sugere Sonia Maria Sellin
Bordin, fonoaudióloga doutorada pela Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas).
Uma saída pode ser os famosos
cadernos de caligrafia. Mas o ideal é debater o assunto com o professor para
buscar a melhor solução.
Não
abandonar o processo
-O
envolvimento da família com a escrita não pode ser encerrado só porque já se
percebe que a criança ou o jovem já tem total autonomia no escrever. Os bons
hábitos e atividades devem ser mantidos e ainda ampliados, tornando-se algo
natural na rotina.
"É
um erro comum. Pais deixam de ler histórias assim que seus filhos aprendem a
ler, privando a criança daquele momento que ela tanto gostava, o que só
desestimula", comenta doutora em psicologia e professora da Faculdade de
Educação da UnB (Universidade de Brasília).
09/03/2012
Texto Luciana Fleury
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