A participação dos pais na escola
ajuda no desempenho escolar das crianças. Uma boa maneira de começar é falando
com os mestres
Demonstrar interesse pelo
aprendizado das crianças é o primeiro passo para melhorar o desempenho escolar
delas
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Pais educam, escolas ensinam:
apregoa um velho provérbio. De fato, é um erro atribuir à escola a total
responsabilidade pelo desempenho escolar das crianças. Pesquisas em todo mundo
mostram que o envolvimento da família na vida escolar dos filhos é vital para o
desenvolvimento deles. A parceria pais + professores é considerada tão
importante que governos pelo mundo investem em medidas para incentivar a
presença dos pais na rotina da escola. Em Nova York (Estados Unidos), onde medidas fizeram com que a cidade fosse
considerada um dos sistemas com trajetória de forte melhoria no mundo, segundo
um relatório da consultoria Mckinsey, de 2008, existem políticas públicas
específicas para estimular a participação dos pais.
Uma das principais iniciativas
tomadas pela prefeitura foi a de criar a posição de coordenador de pais para
cada uma das escolas públicas da cidade. Esse profissional trabalha como
mediador entre a escola e a família: acolhe os pais, tira dúvidas e ajuda quem
não pode participar de reuniões da Associação de Pais e Mestres. No Brasil, o
MEC, secretárias estaduais e municipais começam a se engajar nessa luta para
envolver a família. As escolas brasileiras mais bem colocadas no Ideb (índice
de desenvolvimento da educação básica) também têm estratégias para atrair os
pais para dentro da escola. "Isso faz a diferença entre uma boa escola e
uma mediana", diz Eliana Aparecida Piccini Coelho, diretora da escola
André Ruggeri, de Cajuru (SP), com nota 7,9 no indicador governamental.
A participação é importante, sim,
e por isso o trabalho dos pais precisa estar em sintonia com a escola. E, nada
melhor, do que uma conversa (ou várias) com o professor da criança para
descobrir como ajudar. "A família tem de contar com a escola para cuidar
dos filhos, mas essa responsabilidade deve ser compartilhada. Senão, vira um
jogo de empurra-empurra e quem sofre é a criança" diz Luciana Fevorini,
coordenadora de ensino fundamental II do Colégio Equipe, em São Paulo.
Como começar a conversa com o
professor? O contato pode ser informal, aproveitando as entradas e saídas da
escola, ou por meio de um telefonema. "Os pais podem ligar para a escola e
perguntar o melhor momento para falar com o professor. Mas a escola deve
lembrar que a maioria dos pais trabalha e que, muitas vezes, alguns horários
são proibitivos", diz a psicóloga e educadora Ana Inoue. É papel da escola
propor momentos de contato entre pais e professores. Se a escola não fizer
isso, a família pode exigir a abertura de um espaço para conversa.
Muitos pais, no entanto, podem
sentir-se constrangidos em questionar os professores sobre a vida da criança na
escola. O motivo, muitas vezes, é o desconhecimento. Demonstrar interesse pelo
aprendizado do filho, independente do nível socioeconômico, é o primeiro passo
para que ele melhore na escola. "Mesmo que não tenham estudos, os pais
podem, sim, conversar com o professor", diz a pedagoga paulista Carmen
Galuzzi. Para ajudá-lo na tarefa de iniciar o diálogo com o mestre de seu
filho, consultamos especialistas e identificamos 10 perguntas que podem servir
de ponto de partida.
Leia os itens abaixo:
1. Meu filho participa das aulas?
-É importante saber se a criança
tem feito às lições propostas em classe e participado das atividades.
Independente da faixa etária, a participação indica o envolvimento do aluno.
"O professor pode dizer se a criança demonstra curiosidade ou se é
apática", explica Ana Inoue, coordenadora do Instituto Acaia, em São Paulo
(SP).
Professores de crianças maiores
podem ser perguntados sobre o interesse que os jovens demonstram -- ou não --
nas aulas. "Participar ativamente, fazendo e respondendo perguntas,
evidencia o potencial de aprendizagem do estudante", completa Ana.
2. Como meu filho se relaciona
com colegas, professores e escola em geral?
-Com a resposta a esta questão é
possível avaliar se a criança está se socializando e respeitando as regras da
escola. Muita agitação ou timidez podem ser indício de que algo vai mal. E o
professor, que convive muito tempo com a criança, deve sinalizar esses
comportamentos aos pais. "Crianças manifestam problemas disciplinares, que
a família muitas vezes não percebe, na forma de dificuldades de adaptação na
escola", diz psicólogo Jacques Akerman, de Belo Horizonte (MG). Muitos
pais podem achar que a criança é tímida em casa e saber, pelo professor, que
ela tem boa integração social na escola. O contrário também pode ocorrer.
"A família pode achar que a criança se relaciona bem e descobrir que ela é
tímida na escola" explica Luciana Fevorini. Outros aspectos são
importantes: ela chora? Come direito na escola? "Os pais precisam ficar
atentos também a esses detalhes", diz Luciana Fevorini.
3. Devo ajudar nas tarefas de
casa?
-Muitos pais ficam em dúvida
entre corrigir o dever de casa ou não. O professor pode mostrar quais são as
melhores posturas em relação à tarefa, quais atitudes devem ser evitadas. O
ideal é combinar com ele, pois podem ocorrer divergências entre as instruções
da escola e da família. "Muitos pais ficam preocupados em corrigir erros
ortográficos, mas, muitas vezes, isso não importa tanto para o professor, que
observa o conjunto e a evolução do aluno", diz Luciana Fevorini.
4. Como ajudar nas tarefas?
-Algumas crianças, por força do
hábito, só fazem o dever na companhia de um adulto. Nesse caso, os pais podem
acompanhar a lição, claro, supervisionando a atividade e, assim, estimulando a
autonomia. "A família não pode fazer a tarefa pela criança, jamais",
ressalta Carmen Galuzzi.
Quando os pais não têm condições
de ajudar na lição -- e não importa se o motivo é a falta de tempo ou o
desconhecimento --, não há motivo para vergonha. Devem pedir orientações mais
claras à escola e até contarem seus problemas, dizendo com franqueza que nunca
aprenderam determinados assuntos. Mesmo porque os métodos mudaram muito, a
começar pela alfabetização, com a substituição das velhas cartilhas por
sistemas considerados mais modernos. Outro motivo comum é a dificuldade de
alguns pais com pesquisas pelo computador. Se não puder ajudar, o melhor é
informar a escola. Seu filho só tem a ganhar com isso -- e você pode tentar
aprender o que não teve oportunidade de estudar antes.
5. Como posso me integrar à
escola?
-O professor explicará se a
escola tem associações de pais e como aderir a elas. Além disso, falará sobre
outras formas de inclusão da família na escola -- muitas têm projetos no contra
turno e no fim de semana que envolvem toda a comunidade. O programa Tempero de
Mãe, desenvolvido na rede municipal de Sud Menucci, no interior paulista, é um
exemplo: envolve mães na preparação da alimentação escolar e por tabela, no
dia-a-dia da escola. As candidatas são selecionadas, contratadas e remuneradas
pela Associação de Pais e Mestres (APM).
Você também pode apoiar a
abertura da escola do seu filho para a comunidade, organizar e participar de
atividades extraclasse que acontecerem nas dependências da escola. "Se
você é bom em música, por exemplo, ofereça ajuda" afirma Luciana Fevorini.
A psicóloga alerta, porém, para a possibilidade de pais ocupados se sentirem
discriminados e isso gerar conflitos com a escola. "A família pode ajudar,
mas os professores não podem contar com isso".
6. Qual a rotina da escola em
relação às tarefas?
-Procure entender como funciona a
lição de casa. A escola costuma passar muitos deveres? Qual a frequência? A
lição exige muito tempo de estudo? Conhecer a rotina da escola em relação aos
deveres pode ajudá-lo a acompanhar a criança e lembrá-la de fazer tarefa todo
dia. "O pai pode não saber como ajudar, mas pode perguntar à criança se
ela fez ou não a lição", diz Ana Inoue. Segundo a psicóloga, providenciar
um lugar para os estudos também é uma forma de estimular os pequenos:
"Pode ser qualquer lugar da casa. Vale até a mesa da cozinha".
7. Como a escola organiza
comemorações?
-Comemorações são ótimas formas
de integração entre pais e mestres. Aproveite para se aproximar do professor do
seu filho. Procure saber como a escola celebra aniversários de alunos e se
permite a organização de festas. Mas há de considerar o outro lado da moeda:
verifique se datas comemorativas, como o dia do índio, por exemplo, não
interferem na carga-horária -- muitas crianças perdem aulas importantes para
organizar festas que nada acrescentam ao aprendizado. "Sou contra
comemorações do tipo data pela data", diz Luciana Fevorini, do colégio
Equipe. Ela explica que os eventos devem integrar o planejamento e o currículo
da escola. "Os pais têm de entender os objetivos da atividade e tentar
esclarecer eventuais dúvidas", completa. Por isso, nada de inibições: você
pode e deve tirar dúvidas e questionar a importância de determinadas
atividades. "Muitos colégios valorizam a formação da cidadania e a
cultura, mas o que conta mesmo é a leitura e a escrita" explica Ana Inoue.
Para esta psicóloga, os pais devem perguntar o que a escola pretende ensinar
com tais atividades e quais os conteúdos prioritários.
8. Como a escola avaliará o
avanço do meu filho?
-Tradicionais ou não, as provas
diagnosticam o progresso da criança. Por isso, é importante entender quais são
os critérios de avaliação da escola (a nota vai resultar da aplicação de uma
prova de trabalhos ou dos dois?) e como a média é composta. Também é importante
saber os motivos da nota da criança. "Em resumo, os pais têm de entender o
que seus filhos precisam saber para tirar nota 10", afirma a psicóloga Ana
Inoue. O mesmo vale para notas baixas. Peça exemplos concretos e não hesite em
tirar dúvidas. Muitos professores, sem perceber, usam jargões e palavras
difíceis, o que dificulta o entendimento dos pais e os afasta da escola.
9. Como é a comunicação entre a
família e a escola?
-Saber a melhor forma de se
comunicar com a escola e também como ela vai responder é fundamental. Assim, dá
para entender como a escola se relaciona com os pais, com que frequência
organiza reuniões, como notifica problemas e até como procede em caso de acidentes.
"A família precisa saber a quem recorrer e como agir diante de brigas do
seu filho com colegas, dificuldades de entendimento da matéria, entre
outros", diz a psicóloga Ana Inoue. A comunicação pode ser feita via
agenda, bilhetes ou telefone. "Mesmo assim, os pais podem ligar para
escola quando acharem necessário", diz Luciana.
10. Qual é a sua posição em
relação à faltas?
-Saber se o professor faltará e
quando isso vai ocorrer facilita o planejamento dos pais, ensina a psicóloga
Ana Inoue. Em todo Brasil, a falta de professores (ou absenteísmo) é um
problema sério. No Estado de São Paulo, por exemplo, os professores faltaram ao
trabalho 15% do ano letivo de 2007. No ano passado, uma lei limitou o número de
faltas dos docentes paulistas, mas esse controle não acontece nas demais
regiões do país. Por isso, é importante antecipar-se e perguntar sobre o número
de ausências previstas e sobre a postura dele em relação a isso.
Texto
Bruna Nicolielo
Foto:
Dreamstime
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