A relação entre atividade física e qualidade de vida a princípio pode parecer óbvia, mas a pesquisa mostrou o contrário.
Paulo Roberto Andrade - Agência USP
Como e quando a atividade física é feita
A prática de atividades físicas não se traduz, necessariamente, em mais qualidade de vida.
É preciso avaliar o tipo de atividade e as circunstâncias em que ela é praticada.
Essa relação foi o tema de um estudo feito pela professora Ana Lúcia Padrão dos Santos, na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, sob orientação do professor Antônio Carlos Simões.
Estudo científico da qualidade de vida
A relação entre atividade física e qualidade de vida a princípio pode parecer óbvia, mas a pesquisa mostrou o contrário.
Ana Lúcia explica que é fácil cometer equívocos quando se estuda esses dois temas sem o rigor acadêmico em relação aos conceitos.
"Estudamos qualidade de vida segundo um conceito científico, pois ela pode ser avaliada sob inúmeros aspectos e ser relacionada a diferentes motivadores. Já na atividade física, usamos uma abordagem mais ampla, considerando-a como todo movimento feito por uma pessoa no período de 24 horas" esclarece.
Vida boa e gasto energético
Ana Lúcia entrevistou 228 universitários, sendo 59 homens e 169 mulheres, com idade média de 28,7 anos, todos voluntários de uma instituição de ensino superior privada. A avaliação foi comparar os entrevistados com altos índices de qualidade de vida com aqueles que tinham um alto índice de gasto energético ao longo do dia.
A pesquisa avaliou os entrevistados numa escala científica que mostra o quanto uma pessoa é ativa fisicamente. "Pedimos ao entrevistado para preencher um questionário respondendo quantas horas por dia ele realiza diversas atividades, como dormir, assistir televisão, varrer o chão, caminhar, cuidar do jardim, subir escadas, fazer exercícios na academia, correr, jogar futebol, entre outros" explica a pesquisadora.
Como medir a qualidade de vida?
A qualidade de vida, segundo o método utilizado na pesquisa, pode ser avaliada sob quatro domínios principais: saúde e funcionamento, socioeconômico, psicológico e espiritual, e familiar. Em diversas sociedades esses componentes pesam de formas diferentes. "De um modo geral, a qualidade de vida é avaliada segundo o que é importante para a pessoa pesquisada", esclarece Ana Lúcia.
O resultado foi que os dois índices não coincidiram. As análises mostraram que não houve relações estatisticamente significativas entre os diferentes níveis de atividade física e os índices de qualidade de vida no grupo pesquisado.
O gasto energético, pura e simplesmente, não se traduz necessariamente nos domínios de qualidade de vida estudados.
"Por exemplo, durante a revisão da literatura existente, pesquisamos um estudo que mostrava pessoas que trabalham muito em trabalhos intelectuais [pouca atividade física]. Elas têm maior salário e maior qualidade de vida" conta a professora, "mas isso não significa o contrário, ou seja, que pessoas que praticam atividades físicas tenham menor qualidade de vida".
Equívocos conceituais
O tema qualidade de vida é um assunto muito falado na sociedade, mas pouco estudado cientificamente. "Existem muitas confusões. A qualidade de vida é um termo multidisciplinar, podendo ser associada ao salário, ao prazer da profissão ou à prática de atividades físicas" explica Ana Lúcia. "Ela não pode ser analisada isoladamente, ou seja, existem vários fatores que pesam para compor a qualidade de vida."
Para a professora, o questionário é importante porque os próprios entrevistados não têm noção se fazem ou não atividades. "Por exemplo, um deles respondeu que não fazia atividades físicas, pois ficava muito cansado com seu trabalho como carteiro, ou seja, ele praticava muita atividade física, mas não sabia disso".
Diferença entre atividade e exercício físico
A pesquisa distinguiu o que é exercício físico e atividade física.
Fazer um exercício físico voluntariamente, como praticar um esporte ou fazer academia, cientificamente, é diferente de simplesmente gastar energia caminhando para ir ao trabalho ou subindo escadas.
"É preciso considerar o tipo de exercício físico que a pessoa está praticando, por isso consideramos a atividade física num conceito mais amplo", explica Ana Lúcia. Segundo a professora, é preciso esclarecer os conceitos do estudo com certo rigor científico, para que não haja interpretações equivocadas sobre a pesquisa.
HÁBITOS DA VIDA MODERNA ESTÃO BAIXANDO QUALIDADE DE VIDA
Os hábitos modernos estão baixando a qualidade de vida do brasileiro, fazendo com que ele se apoie precocemente no sistema de seguridade social.
A conclusão faz parte do estudo Qualidade de Vida: Suas Determinantes e sua Influencia sobre a Seguridade Social, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que analisou os hábitos da vida moderna, suas precárias condições de trabalho, e como esses determinantes influenciam na seguridade social, como o auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez.
Segundo o estudo, o Brasil precisa buscar alternativas tanto de sistema previdenciário como de hábitos cotidianos que permitam uma melhor qualidade de vida do cidadão e um menor gasto da seguridade social, principalmente da Previdência.
Neoplasmas e doenças crônicas
Ao desagregar as causas de mortes e comparar os dados brasileiros com os demais países selecionados, o Ipea observou que os neoplasmas, que abrangem todos os tipos de câncer, e as doenças do sistema cardiovascular e circulatório (angiologia e cardiologia) são os responsáveis pela maior parte das mortes nesses países, em 2003, encabeçado pelas doenças crônicas cardiovasculares
As doenças crônicas como um todo - principalmente as cardiovasculares - foram as grandes responsáveis pelas mortes no início do século 21, no Brasil e nos demais países do Continente Americano e na Europa, também abordados no estudo a título de comparação.
Segundo projeção apresentada no estudo do Ipea, há uma expectativa de que ocorram elevações preocupantes dessas doenças em países como o Brasil e o México, apesar de, nas próximas décadas, haver expectativa de queda em alguns países europeus e na Argentina.
Doenças em 2030
As projeções para 2030 apresentam um quadro diverso. A Espanha tem uma projeção de queda de 0,58%, e o Chile, com projeção de aumento de 0,90%. Para o Ipea, esse cenário é considerado "relativamente constante". Portugal apresenta expectativa de queda, enquanto o Brasil apresenta uma projeção de aumento de mortes causadas por doenças crônicas, passando dos atuais 72,1% para 75,8%.
Por outro lado, ao focalizar a análise no Brasil no período entre 1979 e 2004, o Ipea verificou queda forte (57,12%) na incidência de doenças transmissíveis e aumento na incidência de câncer (66,67%) e doenças do sistema nervoso (40,01%).
Fatores comportamentais
Segundo o Ipea, "a queda na incidência de doenças transmissíveis tende a estar correlacionada ao aumento de saneamento básico, elevadas taxas de vacinação encabeçadas por políticas públicas". Já as doenças do sistema subcutâneo e conjuntivo, do sistema nervoso, do sistema digestivo e as ligadas ao sistema endócrino-metabólico aumentaram pelo menos 40,01% ao longo desses 25 anos.
Essas doenças não transmissíveis fazem parte do grupo de doenças crônicas não transmissíveis. Elas têm aumentado decorrente de diversos fatores, principalmente os de natureza comportamental, como dietas, sedentarismo, dependência química de tabaco, álcool e outras drogas.
Fonte:http://diariodasaude.com.br
Fonte:http://diariodasaude.com.br
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