O empresário Yacoff Sarkovas e suas filhas
Catarina (à esquerda), Ana e Laura
(Foto: Arquivo pessoal)
Catarina (à esquerda), Ana e Laura
(Foto: Arquivo pessoal)
Bom profissional se faz na escola
Por Marina Dias
Por Marina Dias
O empresário Yacoff Sarkovas teve uma preocupação em mente na hora de escolher a escola em que suas filhas iriam estudar. A instituição deveria transmitir o gosto pelo conhecimento e fomentar o posicionamento crítico diante da realidade. Mais um item: desenvolver nas três meninas habildades exigidas pelo mercado de trabalho. A preocupação do pai foi válida para Ana, de 25 anos, formada em comunicação e marketing, mas também serve para Laura, de 17, e até para Catarina, de apenas 11. Leia o depoimento de Sarkovas sobre a educação das filhas.
Especialistas concordam que é papel do ensino fundamental e médio - e não apenas da universidade - cooperar de alguma forma no processo de formação dos futuros profissionais. Isso não implica ensinar jovens estudantes a mexer com planilhas de cálculos ou a empreender um novo negócio.
Requer, sim, dar-lhes recursos para lidar com a realidade e a competição, por exemplo - que um dia virá. Então, a dúvida que permanece é: nossas escolas de fato cumprem essa tarefa?
Carlos Alberto Ramos, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), aponta falhas nessa missão. Ele identifica um abismo na transição entre o sistema escolar e o mercado de trabalho. "Nosso modelo educacional é muito segmentado, e os conhecimentos de línguas e matemática, por exemplo, são muito diferentes dos valores compreendidos durante a vida profissional", defende.
O despreparo dos jovens, portanto, é patente. "Desde cedo, é preciso ensinar as crianças a pensar e a se adequar a novas realidades", diz Ramos. "Elas contam, inclusive, com uma vantagem para isso: são mais flexíveis a mudanças e estão sempre abertas a novas tecnologias". Infelizmente, conclui o especialista, não é isso o que acontece nas escolas.
Letra da lei - O mais curioso é que, a despeito de qualquer discussão sobre o dever das escolas, ajudar no desenvolvimento do aluno com vistas ao mercado de trabalho é um fundamento no país, estabelecido pela lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, conjunto de normas que dá o norte ao sistema educacional brasileiro. Portanto, tal tarefa cabe a todos os níveis do ensino básico, dos cinco aos 17 anos.
Bertha do Valle, pedagoga da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), é uma entusiasta do papel da escola na formação profissional. "A partir do domínio da leitura, quando a criança tem 6 ou 7 anos, a escola já pode promover atividades que englobem diferentes profissões, como pesquisas sobre o mercado de trabalho e carreiras, visitas orientadas a diversas instituições ou comércio".
Ensino que funciona - Para Claudio de Moura Castro, especialista em educação e colunista de VEJA, as escolas de ensino infantil e fundamental oferecem aos estudantes, geralmente, a proposta correta para a capacitação para a vida profissional. Isso significa: ensinar a ler, escrever e falar adequadamente já durante a alfabetização infantil.
"Em grande medida, uma escola prática é aquela que consegue ensinar o estudante a fazer bom uso de números e palavras, sem se basear apenas na decoreba", diz.
O problema, segundo o especialista, aparece no ensino médio. "Nesse nível, as escolas são desmotivadoras, oferecendo conteúdos específicos para que os alunos estejam preparados para o vestibular", afirma. "Mas, na verdade, não preparam o estudante para nada".
Moura Castro aponta três habilidades fundamentais aos profissionais de hoje e do futuro. Elas são decorrentes da boa leitura, da boa escrita e da capacidade de comunicar-se bem. "Todos os profissionais precisam saber resolver problemas, falar em público e trabalhar em equipe", sentencia.
"É nesse momento de aprendizado que dissolve-se a fronteira entre o que é acadêmico - ensinado na escola - e o que é profissional e prático para o mercado de trabalho".
Fonte: http://veja.abril.com.br
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