Aquele inverno viera rigoroso, culminado por nevascas insistentes e terríveis. A moça, frágil em sua saúde adoeceu.
Deitada no quarto do hospital ela observava pelo recorte da janela aquela árvore que, impotente, perdia suas folhas a cada dia e comparava cada folha que caia a um dia a menos em sua vida.
Obviamente deixava-se entristecer cada vez mais e por mais que médicos, enfermeiras e medicações buscassem devolver-lhe a saúde, ela não reagia, piorando seu estado já de si tão debilitado.
Magnetizada pelo folclore que ela mesma criara afligia-se a cada folha que caia e pensava: Quando cair a última por certo eu vou morrer.
Os dias e os rigores do inverno continuavam a se arrastar e quando restou uma última folha na pobre e indefesa árvore ela disse para si mesma "amanhã cairá a última folha e eu me vou deste mundo". Ansiosa e aflita pouco dormiu naquela noite que parecia não terminar.
Quando amanheceu e a janela foi aberta seu olhar ansioso varreu os galhos de sua árvore certa de encontrá-la totalmente nua. Porém, qual não foi a sua surpresa! Aturdida ela pode constatar que a "valente folhinha" estava lá e no dia seguinte... e no outro.
Ela criou alma nova, encheu-se de esperanças, reagiu como a folhinha e sarou.
Dias depois soube que a enfermeira percebera sua angústia ante o desenrolar daquela seqüência, pois sabia que a folhinha inexoravelmente cairia no dia seguinte, pois que o inverno apenas cumpria sua função no quadro da Natureza.
Sabia também que sua paciente se deixaria influenciar negativamente como vinha fazendo e que desta vez poderia ser fatal. Pediu a um pintor, amigo seu, que lhe pintasse uma folhinha brilhante e na calada da noite, cheia de esperança, colocou no galho, em substituição a última folha, que realmente acabara de cair.
Enterneceu-se com a bondade da enfermeira que se preocupara tanto com ela e agradecida pensou: Meu Deus! A folhinha caiu e eu ia morrer estupidamente se a enfermeira não fizesse o que fez... Eu quase morri porque em minha tristeza e pessimismo dei poder ao cair natural de algumas folhas!
Finalmente ela aprendeu que o poder de sua cura ou de sua morte não estava decretado no poder de sua árvore, mas potencializado na força do que acreditava.
Jesus disse "Vos sois deuses, sois capazes de fazer tudo o que Eu faço e muito mais". Não duvidemos nunca de Suas palavras, Ele sabia porque as dizia. Deixemos, pois de emprestar a força do acontecer a "mal-feitos", "pés-de-cabra", "escadas", "sextas-feiras", "gatos pretos", e outras crendices. Aprendamos de vez a exercer nossa fé raciocinada, que Paulo e Kardec, cada um a seu tempo, procurou nos conscientizar.
Jesus sabia o que dizia, Ele sabia que Deus nos conferiu o direito de escolha quando ainda tão pequeninos em Espírito, presenteando-nos com o Livre Arbítrio, presentes esses que também nos confere responsabilidades, a da fé raciocinada é um delas, talvez mesmo a principal.
Chico, nosso querido e bom velhinho Chico Xavier, com a doçura e humildade que lhe é peculiar, dedicou mais setenta, dos seus noventa e poucos anos, para que, Amigos Espirituais de elevada sabedoria, como Emmanuel, André Luiz e muitos outros, pudessem se comunicar pelo dom de sua psicografia, nos ajudando e ensinando a compreender melhor o sentido de nossas vidas, que em absoluto não restringe somente a esta que vivemos hoje, mas a muitas outras que já vivemos e outras tantas que ainda viveremos.
São obras que cumprindo condignamente seus papéis, mostraram um mundo infinitamente maior a se descortinar ante nossa visão estreita, provando-nos que a força de poder não está nos objetos e talismãs, mas que nos vêm do Alto pelos caminhos da evolução espiritual.
Consultar obras desse porte nos faz mais capazes de perceber e acreditar nas coisas que são, nas coisas que transcendem nossas expectativas, esperanças e incertezas, pois que a busca do conhecimento é que nos faz maiores, é que nos torna mais capazes de abandonar os amuletos de nossa ignorância, dignificando a força que sobrepuja dificuldades e desafios.
Somos deuses porque por misericórdia de Deus, temos o poder de potencializar aquilo em que acreditamos.
Para concluir queremos lembrar que Kardec, na questão 621, de O Livro dos Espíritos, perguntou aos Espíritos venerandos: "Onde está escrita a lei de Deus?" E a resposta clara como o dia não se fez esperar: "Na consciência".
Doracy Mércia Azevedo Mota
0 comentários:
Postar um comentário