segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A ADOLESCÊNCIA – CONHECER PARA MELHOR CONVIVER


A perda dos rituais e a complexidade do mundo atual exigem amadurecimento mais individualizado e problemático. Mas as dificuldades não são apenas dos jovens. Afinal, a "aborrecência" existe ou o termo serve para estigmatizar os adolescentes?

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a adolescência é um período da vida, que começa aos 10 e vai até os 19 anos, 11 meses e 29 dias, e segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente começa aos 12 e vai até os 18 anos, onde acontecem diversas mudanças físicas, psicológicas e comportamentais. Nessa fase ocorrem pelo menos três fenômenos importantes do desenvolvimento humano: do ponto de vista biológico, a puberdade, com o amadurecimento sexual e reprodutor; do ponto de vista social a passagem da infância para a vida adulta, com a assunção de papéis adultos e a autonomia em relação aos pais; e, do ponto de vista psicológico, a estruturação de uma identidade definitiva para a subjetividade (projeto de vida).

O final da adolescência ocorre quando o adolescente recebe plenas prerrogativas de adulto.

A adolescência geralmente é dividida em três períodos:
1) Pré-adolescência ou Adolescência Menor / Fase Pré-puberal: O marco principal da pré-adolescência ou adolescência menor é o aparecimento da puberdade. As mudanças biológicas da puberdade são iniciadas e controladas por interações complexas de sistemas gonadal e adrenal e pelo eixo hipotalâmico-hipofisário. 

A atividade dos hormônios produz as manifestações clínicas da puberdade, tradicionalmente categorizadas como características sexuais primárias e secundárias. 

As características primárias são aquelas diretamente envolvidas no coito e na reprodução: órgãos reprodutores e genitália externa. As características secundárias incluem o desenvolvimento dos seios, alargamento nos quadris nas mulheres, e crescimento de pêlos faciais e mudança no tom de voz, nos homens. 

As grandes transformações orgânicas impõem dificuldades de ajustes mentais correspondentes, daí uma fase de grande retraimento.     
  2) Adolescência Intermediária ou Média / Fase Puberal / Puberdade: Dois importantes eventos biológicos ocorrem, durante este período de transição entre o início e final da adolescência:    

Os meninos finalmente alcançam e ultrapassam a altura e peso das meninas;
a menarca (primeira menstruação) já ocorreu na maioria das meninas.

Consequentemente, os temas de sexualidade, imagem corporal, gravidez, papéis estereotipados para homens e mulheres, popularidade e identidade estão entre as múltiplas preocupações, frequentemente opressivas aos adolescentes, durante este estágio.                                                         

3) Adolescência tardia ou Adolescência MaiorFase Pós-Puberal / Pós-puberdade: Este período dura por cerca de três a quatro anos e termina quando o relacionamento do adulto jovem é estabelecido. É uma fase de fortes sentimentos e emoções, com intensos relacionamentos de oposição. Duas importantes tarefas durante este período são:

1) Transformar-se, de uma pessoa dependente, em uma pessoa independente e
2) Estabelecer uma identidade.

Ambas as tarefas são assumidas durante a adolescência, mas estendem-se até a idade adulta e devem ser retrabalhadas ao longo de todo o ciclo vital.

O conceito de "síndrome da adolescência normal" foi criado para evidenciar exatamente este aspecto: na passagem da infância para a vida adulta, mais do que um período de tempo, o sujeito terá de cumprir a tarefa de viver os lutos pela perda do corpo infantil e dos pais da infância, ressituando-se subjetivamente como adulto. 

Aqui devemos ressaltar a presença da palavra "luto", que revela a perda de algo muito valioso. Essa perda é vivida com grande sofrimento, mas temos de criar meios de substituí-la por novas aquisições reais, imaginárias e simbólicas. 
 Características comuns: ser do contra, ter manias, comer alimentos diferentes, vestir-se de forma estranha, cultuar ídolos, passar a gostar mais dos amigos que dos pais, conhecer novas religiões e até mesmo experimentar variadas formas de ser. 

Todas essas vivências são comportamentos que fazem parte do processo de experimentação para encontrar a forma nova do ego. Estar meio deprimido, chorar sem motivo aparente, ser alegre de forma exagerada, reivindicar atitudes inesperadas dos pais são parte dessa elaboração do luto. O processo também pode ser vivenciado com angústia, depressão e agressividade.

É importante salientar que na contemporaneidade todas as passagens são problemáticas, pois os parâmetros históricos foram perdidos para todas as etapas do crescimento humano, por conta da complexidade do mundo ocidental contemporâneo. Assim, é difícil crescer, adolescer, ser adulto, assumir a paternidade, envelhecer e morrer.

O adolescer dos pais de hoje já é antigo e o novo adolescer lhes parece problemático, mais pela falta de identificação entre o processo de amadurecimento das diferentes gerações que propriamente porque estamos diante de uma "juventude perdida". 

O que perdemos foram as semelhanças: outrora o adolescer era o mesmo durante séculos, além de ser totalmente ritualizado. Hoje, com a velocidade das mudanças, o adolescente de uma geração causa estranhamento e perplexidade para a anterior. 

Todos sofrem com isso. Os pais, principalmente, sentem-se desorientados e vivem o luto da perda do filho dócil, companheiro - e muito idealizado, que agora os troca pela "balada com a turma" e não é mais o primeiro aluno da classe. Os jovens, por outro lado, ficam expostos a um excesso de crítica, são estigmatizados e, infelizmente, muitas vezes abandonados e incompreendidos.
O adolescer é um dos eventos cheios de emboscadas que temos de enfrentar na vida moderna. As crises relacionadas às transformações envolvem a todos. Pais, educadores e profissionais da saúde também fazem parte dela e frequentemente manifestam sintomas ao enfrentar a convivência com os jovens, revivendo suas próprias adolescências. 

O desamparo e a necessidade de criar os próprios rituais de passagem estão presentes em todos os períodos da vida humana, como no envelhecer, no aposentar-se e até mesmo no morrer. O homem contemporâneo está pagando, e caro, com solidão e angústia a troca dos rituais tradicionais pela liberdade e pela individualidade.´

Cada adolescente quer revelar seu valor e sua existência:

"SE ME AMO, EXISTO."

"PRECISO SER VISÍVEL."

"VOU MOSTRAR MEU VALOR."

"RESPEITEM MINHA OPINIÃO!"

"EU FAÇO O QUE EU QUERO!"

O adolescer implica os pais, que também vão viver um processo de mudança de seus papéis, deixando de ser os admirados e poderosos pais da infância, para ser apenas os pais despidos do imaginário infantil. Nesse processo, alguns entram em pânico ao perceber que já não precisam ser tão cuidadores e presentes como antes. 

Existem situações em que o processo de amadurecimento e busca de autonomia do adolescente é experimentado com tão grande sofrimento pelos pais que o medo da perda dos filhos não pode ser vivido. Assim alguns pais não conseguem mais enfrentar o desafio e as dificuldades que envolvem a tarefa de exercer a paternidade de um adolescente. 

Muitos se deprimem, se angustiam e usam o discurso dos perigos e dos riscos para impedir que o filho cresça, mantendo-o na posição infantil, a fim de garantir a posição de pais de uma eterna criança. É comum esse processo de domínio sobre o filho ser perpetrado com atitudes autoritárias, geradoras de grandes conflitos familiares.
 Os educadores escolares também têm enfrentado dificuldade de lidar com este adolescente, pois querem manter a mesma postura do tratamento infantil. Na verdade, a forma mais provável de sucesso dentro do espaço escolar é a de envolver, motivar e acolher este adolescente, sendo então um referencial positivo, entre tantos negativos que o rodeiam. "Quero ser amável como meu professor." "Como é bom assistir a aula daquele professor que entende a gente!"

Colunista: Edileide Castro
Pedagoga, Psicanalista Clínica, Escritora, Consultora e Palestrante.
www.edileidecastro.com


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