Introdução
Atualmente, muito se tem falado a
respeito do uso de diagnósticos psiquiátricos para justificar problemas de
aprendizado, de comportamento, ou até mesmo dificuldade dos pais em educar seus
filhos. O diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH) é um bom exemplo. Muito presente na mídia, esse quadro reúne tanto admiradores
como ferrenhos opositores.
Outro tópico bastante polêmico é o uso de medicações
em crianças e adolescentes. Tem sido questionado se os efeitos colaterais das
medicações não seriam mais prejudiciais que os próprios sintomas; se existe ou
não o risco dos pacientes ficarem “dependentes”; ou se as medicações poderiam
causar mudanças ou danos permanentes ao cérebro.
Em relação ao TDAH, diz-se até
que a medicação mais comumente usada no seu tratamento, o metilfenidato, faria
com que essas crianças ficassem “boazinhas”, “obedientes”, pois na verdade
“retiram a espontaneidade ou a criatividade das crianças”.
Todas essas informações na mídia
tornaram os sintomas de TDAH mais conhecidos entre a população em geral e
impulsionaram o surgimento de associações de pacientes, tais como a Associação Brasileira
de Déficit de Atenção (ABDA).
Apesar dos muitos ganhos trazidos
por essas iniciativas, ainda existem muitas dúvidas e mitos sobre o TDAH. O
desconhecimento ainda persiste entre médicos, psicólogos, terapeutas
ocupacionais, fonoaudiólogos, pedagogos, familiares e os próprios portadores do
TDAH.
Entre os educadores, esse
desconhecimento aumenta as sensações de impotência e frustração, pois o TDAH
afeta não apenas o comportamento, mas também o processo de aprendizado de seus
portadores. Grande parte da literatura aborda apenas os aspectos
comportamentais do TDAH. Sabemos que os comportamentos hiperativos, disruptivos
e impulsivos interferem não apenas no dia-a-dia de professor e do aluno, mas em
toda a escola.
Talvez por isso esses comportamentos acabem recebendo mais
atenção dos profissionais. Entretanto, gostaríamos de ressaltar que alterações
no funcionamento cognitivo, com consequências principalmente nas funções
executivas (descritas em detalhes na página 18), na linguagem (receptiva e
expressiva), e nas habilidades motoras fazem parte do quadro e devem ser
estudadas. Esses comprometimentos afetam a capacidade de aprendizagem e o
desempenho escolar.
Ou seja, lidar com os sintomas de
TDAH e suas consequências não é um problema apenas dos portadores e/ou
familiares. Os professores têm importante papel e real responsabilidade na
melhora do processo de aprendizado. Portanto, mesmo que quisessem, não poderiam
ser excluídos do tratamento do TDAH.
Este livreto tem como objetivo
principal fornecer informações importantes sobre TDAH que possam auxiliar aos
professores e demais profissionais envolvidos na arte de educar para que consiga
identificar os sintomas e as características do TDAH, desenvolver estratégias eficazes
de ensino e manejo comportamental para seus portadores e contribuir para a
melhora da qualidade de suas vidas.
Existe mesmo TDAH?
Você já deve ter se deparado com
crianças que não conseguem parar quietas, estão o tempo todo “aprontando”, “a
mil”, como se estivessem “ligadas na tomada”. Muitas vezes essas crianças
parecem não ouvir quando chamadas, e quando “ouvem” parecem ter muita
dificuldade em se organizar para fazer o que lhes é pedido.
Frequentemente têm dificuldade
em aguardar sua vez nas atividades, interrompem os outros, mudam de assunto de
forma recorrente e agem impulsivamente, chegando a apresentar comportamentos agressivos.
Na escola essas crianças apresentam, frequentemente, dificuldades no
aprendizado, assim como no relacionamento com seus colegas, levando tanto a
repetências quanto à evasão escolar, a expulsões e a sentimentos de menos valia
e baixa autoestima
Em geral, a primeira reação é pensar que são crianças mal
educadas, com pais ausentes e com dificuldade para “impor limites”. É possível
que essa primeira impressão esteja correta. Entretanto, também é possível que
elas apresentem algum problema médico, entre eles o TDAH.
OTDAH é um transtorno
neuropsiquiátrico frequente, que acomete crianças, adolescentes e adultos,
independente de país de origem, nível socioeconômico, raça ou religião.
Atualmente não existem, nomeio científico, dúvidas sobre a gravidade e a
amplitude das consequências do TDAH na vida dos portadores e de seus
familiares. Para evitá-las, é preciso reunir esforços em diversas áreas para
reduzir o tempo entre o início dos sintomas e a realização do diagnóstico
correto, garantindo que todos os pacientes tenham acesso a um tratamento
adequado para os sintomas de TDAH e possíveis comprometimentos associados.
Apesar dessas certezas no meio acadêmico e científico, alguns setores da
sociedade e profissionais das áreas de educação e saúde ainda questionam a
existência do TDAH.
Como saber se um diagnóstico não
é “invenção” dos médicos ou apenas conseqüência da correria da vida moderna ou
da quantidade de estímulos oferecidos às pessoas em um mundo globalizado?
Uma forma
de tentar responder a essa pergunta é saber qual a frequência do problema em
vários países, com culturas diferentes. Para isso, é preciso realizar estudos
na população geral, chamados de epidemiológicos. Outra maneira é pesquisar os
primeiros relatos desse diagnóstico e qual a sua evolução ao longo do tempo.
OTDAH ao longo do tempo
As primeiras descrições de
crianças que apresentavam quadros semelhantes ao que se descreve atualmente
como TDAH surgiram na literatura infantil alemã em meados do século XIX.
Traduzidos para o português, e publicados no Brasil na década de 1950, com os
nomes de “João Felpudo” e “Juca e Chico”, os livros descreviam crianças muito “danadas”,
e com grande dificuldade para seguir as regras propostas pelos pais. Em 1917, um médico chamado Von Economo fez a
primeira descrição clínica dessa patologia. Segundo ele:
“Temos nos deparado com uma série
de casos nas instituições psiquiátricas que não fecham com nenhum diagnóstico conhecido.
Apesar disso, eles apresentam similaridades quanto ao tipo de início do quadro
e sintomatologia que nos força a agrupá-los em uma nova categoria diagnóstica...
Estas crianças parecem ter perdido a inibição, tornam-se inoportunas,
impertinentes e desrespeitosas. São cheias de espertezas, muito falantes...”
Ao longo do tempo, o TDAH recebeu
várias denominações, como por exemplo, lesão cerebral mínima, síndrome
hipercinética e disfunção cerebral mínima. Os critérios utilizados para o
diagnóstico de TDAH também têm variado bastante.
Essas diferenças nos nomes e
nos critérios diagnósticos podem confundir as pessoas. Por outro lado, na
maioria das vezes os nomes mudaram para acompanhar os resultados das pesquisas e
dessa forma refletir o maior conhecimento sobre o TDAH. Por exemplo, o termo
“lesão cerebral mínima” foi utilizado no período em que se acreditava que seus
portadores teriam uma lesão no cérebro, o que apesar de causar problemas graves
no comportamento do paciente, era “mínima” o suficiente para não ser detectada
em exames radiológicos e menos grave que problemas neurológicos tais como
tumores cerebrais.
Atualmente, sabe-se que o TDAH
não é consequência de nenhuma lesão no cérebro.
Epidemiologia do TDAH
Estudos epidemiológicos
realizados em diversos países, com características culturais muito diversas,
revelaram que o TDAH existe em todas as culturas.
Esses estudos comprovam que o
TDAH NÃO é secundário a fatores ambientais como estilo de educação dos pais (a
famosa “falta de limites”) ou consequência de conflitos psicológicos.
Estudos epidemiológicos
investigam quantos indivíduos têm um diagnóstico específico, em um determinado período
de tempo. Esse número total é chamado de “taxa de prevalência”, ou apenas
“prevalência”. Essa taxa permite compreender o quanto é comum, ou raro, um
determinado diagnóstico numa população.
Em relação ao TDAH, estudos
americanos apontaram prevalências entre 2,5% a 8,0% (Rowland e cols., 2001). Em
1999, um estudo brasileiro, usando uma amostra de escolares de 12 a 14 anos,
encontrou taxa de prevalência de 5,8% nesses estudantes (Rohde e cols., 1999).
Em 2007, foi publicado um dos
estudos considerados como mais importantes sobre a prevalência de TDAH. Esse
estudo avaliou os resultados de mais de 8 mil estudos em todo o mundo e
conseguiu demonstrar que a estimativa mais correta para a prevalência de TDAH
seria de 5% da população infantil mundial (Polanczyck e cols., 2007).Para
explicar melhor a relevância desses achados, imagine uma classe de 40 alunos.
Considerando uma taxa de 5%, a
estimativa é que ao menos duas crianças da classe sejam portadoras de TDAH!
Quando avaliamos as frequências
nas clínicas ou ambulatórios para atendimento de saúde mental, encontra-se que
o TDAH é o transtorno mais comumente encaminhado para serviços especializados
em psiquiatria da infância e da adolescência.
Apesar de ser mais frequente na
infância, existem evidências crescentes de que o TDAH afeta pessoas de todas as
idades, e que cerca de 60 a 80 % das crianças com TDAH mantêm os sintomas na
adolescência e na vida adulta.
Também existem evidências
científicas de que quando diagnosticado é importante dar início ao tratamento,
tendo em vista que a persistência dos sintomas pode causar graves
comprometimentos do aprendizado, da autoestima e dos relacionamentos social e
familiar.
Como
diagnosticar o TDAH?*
O diagnóstico de TDAH é clínico.
Não existe, até o momento, NENHUM exame ou teste que possa sozinho dar seu
diagnóstico, nem mesmo os mais modernos tais como ressonância magnética
funcional, PET, SPECT, eletroencefalograma digital ou dosagem de substâncias no
sangue ou em fios de cabelo.
Para se elaborar um diagnóstico
correto dessa condição são necessárias várias avaliações, muitas vezes com
abordagem multidisciplinar. A avaliação clínica com médico deve coletar
informações não apenas da observação da criança durante a consulta, mas também
realizar entrevista com os pais e/ou cuidadores dessa criança, solicitar
informações da escola que acriança frequenta sobre seu comportamento, sociabilidade
e aprendizado, além da utilização de escalas de avaliação da presença e
gravidade dos sintomas.
Após reunir todas essas
informações, o médico deve avaliar se o paciente preenche os critérios
diagnósticos para o TDAH. Esses critérios diagnósticos estão descritos nos
manuais de classificação (MC). Correspondem a uma lista de sintomas e sinais,
elaborados por um grupo de pesquisadores
especialistas no assunto, e utilizados para homogeneizar a forma de se avaliar
se um indivíduo tem ou não uma determinada doença.
Manuais
de Classificação
O objetivo principal dos MC é
melhorar a comunicação entre os pesquisadores e os clínicos. Mais
especificamente, para pesquisadores, os MC permitem que eles compartilhem
descobertas; aumentem a confiabilidade e validação dos resultados de pesquisas;
e assim encorajem o aumento gradual do conhecimento. Para os clínicos, os MC
ajudam na escolha do tratamento mais adequado e possibilitam a avaliação dos benefícios
das intervenções terapêuticas. Sendo assim, os MC devem apresentar definições
descritivas, com ênfase nos comportamentos apresentados pelos pacientes e nos
achados clínicos mais frequentes, independente de sabermos ou não quais os
fatores etiológicos envolvidos nos diversos diagnósticos.
Atualmente, os MC mais utilizados
são o Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana,
que já está na sua quarta versão, o DSM-IV e o Código Internacional de Doenças
da Organização Mundial de Saúde, décima versão, o CID-10.
Apesar das enormes vantagens que
o DSM-IV e a CID-10 proporcionaram, é preciso estar atento para que eles não
sejam utilizados de forma equivocada. Ou seja, os manuais NUNCA podem ser
usados para estigmatizar as pessoas. Da mesma forma, é importante lembrar que o
diagnóstico é o início do tratamento, não o seu fim. Levantamos essa questão
porque muitos professores perguntam se ao dizer o diagnóstico para alguém ou
discutir sobre o mesmo com a família não existe o risco de “rotular” o
paciente.
É interessante pensar que essa
pergunta só é feita para diagnósticos psiquiátricos. Para qualquer outra
especialidade, Para qualquer outra especialidade, quando vamos ao médico
queremos sempre saber o que temos. Por exemplo, caso uma criança esteja com
febre e tosse, os pais com certeza vão querer saber se seu filho (a) tem
bronquite, pneumonia, ou apenas um resfriado, antes de medicá-lo (a) com uma
aspirina ou antibiótico.
Da mesma forma, em psiquiatria,
também é extremamente importante identificar e discutir com o paciente e seus
familiares às hipóteses diagnósticas antes de iniciar o tratamento. Se nós,
profissionais (tanto da área de saúde quanto de educação), não nos sentirmos à
vontade para discutir um diagnóstico específico, como vamos exigir que uma
criança com TDAH tenha os mesmos direitos de outra com qualquer problema clínico
tais como pneumonia ou diabetes? A seguir, apresentamos os critérios para o
diagnóstico de TDAH, de acordo com o DSM-IV.
Lista de Sintomas do TDAH de
acordo com o DSM-IV:
A. Ou a presença de seis (ou
mais) sintomas de desatenção persistiram pelo período mínimo de seis meses, em
grau mal adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento OU a
presença de seis (ou mais) dos seguintes sintomas de
hiperatividade/impulsividade, por no mínimo seis meses, em um grau mal
adaptativo e inconsistente com o desenvolvimento.
B. Alguns dos sintomas de
desatenção ou hiperatividade/impulsividade já estavam presentes antes dos 7
anos de idade.
C. Algum comprometimento causado
pelos sintomas está presente em 2 ou mais contextos [p. ex. na escola (ou
trabalho) e em casa].
D. Deve haver claras evidências
de comprometimento clinicamente importante no funcionamento social, acadêmico
ou ocupacional.
E. Os sintomas não ocorrem
exclusivamente durante o curso de um transtorno global do desenvolvimento,
esquizofrenia ou outro transtorno psicótico, nem são mais bem explicados por
outro transtorno mental (por exemplo, transtorno do humor, transtorno de
ansiedade, transtorno dissociativo ou transtorno de personalidade.
A seguir, na Tabela 1 descrevemos
os sintomas descritos no critério “A”, e exemplos de como esses sintomas podem
se apresentar na sala de aula.
Tabela 1 – Sintomas de TDAH e
exemplos de sua apresentação na sala de aula
Sintomas de Desatenção
•Não presta atenção a detalhes
e/ou comete erros por omissão ou descuido;
•Tem dificuldade para manter a
atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
Exemplos de situações. Na escola,
o aluno:
•faz atividade na página
diferente da solicitada pelo professor;
•ao fazer cálculos, não percebe o
sinal indicativo das operações;
•pula questões;
•durante o intervalo não consegue
jogar dama ou xadrez com os colegas;
•Parece não ouvir quando lhe
dirigem apalavra (cabeça “no mundo da lua”);
•Tem dificuldades em seguir
instruções e/ou terminar tarefas;
•Dificuldade para organizar
tarefas e atividades;
•Demonstra ojeriza ou reluta em
envolver-se tarefas que exijam esforço mental continuado;
•Perde coisas necessárias para as
tarefas e atividades;
•Distrai-se facilmente por
estímulos que não tem nada a ver com o que está fazendo;
•Apresenta esquecimento em
atividades diárias;
•está mais preocupado com a hora
do recreio e situações de lazer;
•desenha no caderno e não percebe
que estão falando com ele;
•não percebe que a consigna
indica um determinado comando e executa de
outra forma;
•em perguntas sequenciadas em
geral respondem apenas a uma;
•guarda os materiais fotocopiados
em pastas trocadas
•na véspera da prova resolve
fazer uma pesquisa de outra matéria;
•inicia uma resposta, palavra ou
frase deixando-a incompleta;
•desiste da leitura de um texto
ou tarefa só pelo seu tamanho;
•leva gravuras para uma pesquisa
em sala e deixa no transporte escolar;
•perde frequentemente o material;
•procura saber quem é o
aniversariante da sala ao lado quando escuta o “parabéns”;
•envolve-se nas conversas
paralelas dos colegas;
•esquece a mochila na escola com
todo o seu material;
•não traz as tarefas e trabalhos
a serem entregues no dia;
1 comentários:
Olá amiga querida!
Saudades... Estou a aproveitar esta paragem de Carnaval pra visitar os amigos e desejar um Bom Carnaval!
Tem selinho para vc lá no meu blog!!
Este é o link do mimo:http://dl.dropbox.com/u/2444571/Meu%20Blog/2012/mimo%20carnaval.gif
Ofereço com maior carinho!
um grande beijinho e um bom inicio de semana!
PS: Tem tb mimo do Dia dos Namorados pois em Portugal comemoramos a 14 d Fevereiro...
Joana Neves
http://joana-neves.blogspot.com
http://materialspsp.blogspot.com
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