quinta-feira, 15 de julho de 2010

É Fundamental Que o Professor Goste de Ler


A gaúcha Regina Zilberman é licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Santa Maria (RS). 

Em entrevista a Revista Pré-Texto a escritora diz que graças a um entusiasmo criador, o país dispõe hoje de um invejável conjunto de grandes es­critores, reconhecidos também no exteriorr.

Desde 1973, as obras da escritora vem contribuindo com a literatura brasileira. Publicou cerca de 25 livros, entre eles: São Bernardo e os Mitos da Comunicação, Um Brasil para Crianças e Como e Porque Ler Literatura Infantil Brasileira, em que mostra as principais conquistas dos livros para crianças na atualidade: a discussão de temas sociais, o questionamento do autoritarismo, entre outras. “Ao lado disso, a poesia e o teatro dirigido à infância chegaram a produtos de grande qualidade”, diz Regina. 

Pré-Texto: Quais fatores têm distanciado ou aproximado os alunos dos livros, se tomarmos a realidade da escola pública no país? 

Regina Zilberman: Os alunos não fogem dos livros; o que acontece é o contrário, já que os livros são colocados à distância dos estudantes. As bibliotecas escolares são pobres; e, quando o governo lança programas de abastecimento dos livros, esses freqüentemente não ficam à disposição dos alunos. 

Esse problema aconteceu com programas como Ciranda de Livros ou Salas de Leitura, nos anos 80; e repetiu-se com o Biblioteca em sua Casa, nos anos 2000. 

Esperemos que o Fome de Livros seja bem sucedido, colocando efetivamente as obras à disposição dos leitores jovens e adultos. Se isso acontecer, alunos, e leitores em geral, não se distan­ciarão das obras impressas. 

Pré-Texto: Apresente um breve painel da literatura infantil hoje. 

Regina: A literatura infantil apresenta tal variedade de temas e obras, que é difícil resumi-Ia. No livro recentemente lançado, "Como e porque ler literatura infantil brasileira", procurei traçar as principais conquistas de nossos livros para crianças na atualidade: a discussão de temas candentes da sociedade, o questionamento do autoritarismo, a eleição de personagens crianças que transformam seu meio e as outras pessoas, a renovação do conto de fadas. Ao lado disso, a poesia e o teatro dirigido à infância chegaram a produtos de grande qualidade. 

Graças a esse entu­siasmo criador, dispomos hoje de um invejável conjunto de grandes escritores, reconhecidos no País e no Exterior. 

Pré-Texto: Qual é o papel da leitura de obras literárias na formação da infância? 

Regina: A leitura de livros de teor literário coopera para o fortaleci­mento do imaginário das pessoas. Todos precisamos dispor de uma imaginação criadora, que colabore para a resolução de problemas e ambientação no real. As crianças necessitam ainda mais, porque estão em processo de constituição de sua personalidade e concepção de mundo. Somente a literatura, dentre as formas de leitura, lida com o imaginário; e dispõe de um adicional: não apresenta nada acabado (ao contrário de outras formas de expressão artística, que lidam com fórmulas prontas), estimulando a improvisão, a criatividade e a fantasia. Podemos dispensar várias coisas na escola, mas jamais a presença da ficção e da poesia. 

Pré-Texto: Contar histórias na sala de aula e ler com os alunos são algumas estratégias usadas por professores hoje. Que outras possibilidades podem ser vivenciadas? 

Regina: Contar histórias é importante, mas é igualmente decisivo permitir ao aluno escolher seu texto, aprender a lê-Io de modo independente e expressar-se sobre suas preferências, sejas elas quais forem. 

Pré-Texto: É possível tornar o texto matéria de prazer e deleite na sala de aula? 

Regina: Acredito que sim; para isso, é fundamental que o professor também goste de ler, tenha prazer na literatura e busque novidades no plano literário. Não se conse­gue convencer o aluno de que tal obra é boa ou agradável, se não experimentamos esse sentimento junto com ele. 

Pré-Texto: Como se explica o fato de algumas obras infantis se tornarem fenônemos de vendas, ainda que em língua estrangeira, como é o caso de Harry Potter? 

Regina: Livros infantis sempre foram bons de venda, mas, efetivamente, Harry Potter é um caso muito especial. Mostra, em primeiro lugar, que a literatura e a leitura estão vivas e continuam a interessar o público leitor, apesar de muitas profecias em contrário; e que o leitor gosta de histórias de aventuras, com fantasia e faculdades mágicas. 

A literatura infantil, quando praticamente coincidia com o conto de fadas, era assim; evidencia-se, pois, que ela mantém sua natureza, pois as novelas de J. Rowling caracterizam-se pelo aproveitamento dessas qualidades.


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