Pela primeira vez em 27 anos os
critérios para se traçar o diagnóstico clínico do Alzheimer foram revisados, e
novos parâmetros de pesquisa para a detecção da doença em seus estágios
iniciais foram divulgados como forma de aprofundar o conhecimento da desordem.
A revisão dos critérios foi feita
pelo Instituto Nacional do Envelhecimento e pela Associação do Alzheimer, nos
Estados Unidos, e foi publicada nesta terça-feira (19) no periódico Alzheimer’s
& Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association.
Os médicos norte-americanos
esperam ajudar os cientistas, com esses novos parâmetros, a descobrir novos
métodos de diagnóstico e novos tratamentos para a doença.
A revisão do documento, que
continha as linhas gerais do tratamento e diagnóstico do Alzheimer, marca uma
importante mudança no estudo da desordem cerebral, uma vez que fazia quase três
décadas que não se atualizava o material, mesmo com as mais modernas pesquisas
já feitas na área de saúde.
Na prática, o que muda é que os
médicos diagnosticavam o Alzheimer apenas após o surgimento dos primeiros
sintomas de demência, sem levar em consideração sua evolução ao longo dos anos.
Agora, a Associação do Alzheimer
dividiu a doença em três etapas: um estágio pré-clínico, o estágio de sintomas
mais amenos e, por fim, a demência causada pela condição patológica. Com isso, abrem-se
as portas para que os médicos estudem mudanças no cérebro e nos fluidos
cerebrais e consigam relacioná-las ao Alzheimer.
“A pesquisa com o Alzheimer
evoluiu bastante nos últimos anos. Atualizar os parâmetros de diagnóstico para
que sigam a velocidade dessas mudanças científicas não é apenas necessário, mas
também irá beneficiar os pacientes na medida em que acelera a velocidade com
que são feitas as pesquisas”, afirmou o doutor Richard Hodes, diretor do
Instituto Nacional do Envelhecimento.
O médico encarregado pelo
escritório científico da Associação do Alzheimer, William Thies, disse também
que a revisão do documento trará benesses que poderão levar a um diagnóstico da
doença cada vez mais cedo e sempre mais efetivo. “Isso permitirá que mais
pessoas vivam vidas sem nenhum – ou com muito pouco – sintoma do Alzheimer”,
disse.
Os critérios clínicos originais
do Alzheimer, datados de 1984, definiam a doença como tendo um único estágio
evolutivo, que é justamente a demência, ignorando que a pessoa pudesse
apresentar indícios da desordem cerebral antes de chegar nesse ponto. Até hoje,
era considerado que pessoas livres de demência não tinham a doença, e o
diagnóstico do Alzheimer nesses pacientes era confirmado apenas depois de
mortos, quando era feita uma autópsia no corpo.
Uma das características do
Alzheimer é a formação de placas de proteínas amiloides e proteínas tau no
cérebro, o que, na maioria dos casos – mas não em todos – pode levar à
demência. Em muitos pacientes, porém, esse excesso de proteínas no órgão só era
descoberto depois da morte. Mas, de 1984 para cá, diversas pesquisas já haviam
mostrado que nem todos os sintomas estão diretamente ligados a mudanças
anormais na atividade cerebral, podendo o paciente ter Alzheimer sem apresentar
vários dos sintomas considerados comuns.
Algumas das pesquisas médicas
chegaram mesmo a mostrar que pacientes idosos que possuíam altíssimos níveis de
plaquetas amiloides no cérebro jamais apresentaram sinais de demência durante
toda a vida – e ainda assim morreram por causa do Alzheimer.
Também ficou provado que o acúmulo
dessas proteínas no cérebro começa a acontecer antes da formação das plaquetas
e da perda de neurônios.
Como
forma de resumir tudo o que já se estudou sobre o Alzheimer, os dois
institutos, então, resolveram compilar os dados e dividir os estágios da doença
em três.
No
primeiro, chamado de pré-clínico, avalia-se e se observa o acúmulo de proteínas
amiloides no cérebro, sem, porém poder ser verificado nenhum sintoma comum.
No
segundo, chamado de Deterioramento Cognitivo Leve (DCL), os primeiros sintomas
de perda de memória começam a surgir, e é quando a pessoa geralmente é
diagnosticada – a doença já está evoluída -, embora ela ainda esteja saudável.
Por
fim, há o estágio da demência, o final da doença, quando a pessoa já se
encontra em um estado avançado do Alzheimer.
Os
pesquisadores ampliaram também os conceitos desse estágio final para que não
ficasse centrado apenas na perda da memória, mas incluísse, além, outros aspectos
da perda cognitiva.
O novo documento deixa aberta a
possibilidade para que novas descobertas e tecnologias sejam automaticamente
inseridas nos parâmetros do diagnóstico do Alzheimer, principalmente aquelas
que estudem os processos da doença, possibilitando que o tratamento da doença
seja ampliado com mais rapidez e não tenha que esperar outros 27 anos.
“Nós não estamos impondo um
limite (nas pesquisas com o Alzheimer). O que estamos dizendo com esta revisão
é que temos aqui o mais avançado conhecimento e não esperaremos outros 27 anos
para poder revisá-la novamente”, afirmou o doutor Creighton Phelps, diretor do
Instituto Nacional do Envelhecimento.
Márcio Borges
Geriatra - marcioborges@cuidardeidosos.com.br
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