Sexíssimo começa na pré-escola e
pode ser revertido
Pais e professores devem ficar
atentos às separações de gênero e preconceitos
Por Carolina Gonçalves
"Mulheres não gostam de
futebol", "homens não podem usar roupa rosa"- é comum fazermos distinção
de coisas que seriam voltadas para mulheres e outras para homens, como se fosse
atividades específicas para cada sexo. O nome disso é sexíssimo.
Esse sentimento é passado tanto
pelos pais quanto pela escola e pode prejudicar a formação da criança se for
exagerado demais. "Embora essa separação de masculino e feminino não seja
tão marcante hoje, ela ainda existe e pode ser preocupante", afirma Stella
Paiva, psicóloga escolar da Rede Pitágoras.
Fique atento aos sinais dessa
tendência e saiba o que especialistas aconselham para a educação do seu filho:
Quais as consequências?
"Os meninos podem criar
diversos conflitos contra a menina e vice-versa, já que não trata o outro como
igual", alerta Stella. Muitas crianças carregam esse sentimento para a
fase adulta e podem ter problemas de relacionamento, tanto dentro de casa como
no trabalho.
O homem, por exemplo, pode
colocar a mulher em uma posição inferior, a mulher pode se achar sempre frágil
e dependente - ou até o contrário: a mulher pode inferiorizar o sexo oposto,
sentindo-se independente demais.
"São as pequenas ações que
fazem isso progredir e o papel da escola e da família é fundamental nesse
processo", explica Stella. Ela conta que é necessário evitar grandes
distinções entre homens e mulheres e procurar dar a oportunidade à criança de
fazer suas próprias escolhas, sejam elas "de menina" ou "de
menino".
O sexíssimo pode ser alimentado
pelos próprios pais, antes mesmo de a criança entrar na escola.
Os primeiros sinais
De acordo com a pedagoga e
coordenadora do Colégio Fênix, Gabriela Dalmédico, a criança manifesta esse
sentimento sexista no período pré-escolar, um pouco antes dos sete anos.
"Nessa fase, ela vivencia situações que envolvem o sexíssimo e expressam
esse sentimento de forma até espontânea, como um menino não querer usar rosa e
uma menina não querer usar azul", afirma.
É interessante a interferência
dos professores e dos pais, a fim de que a criança entenda que essas separações
não são extremamente necessárias.
A influência da família
O sexíssimo pode ser alimentado
pelos próprios pais, antes mesmo de a criança entrar na escola. É comum os pais
separarem, até inconscientemente, as coisas "de menino" das "de
menina". Desde brinquedos até mochilas, lancheiras, cadernos... A criança
cresce com essa ideia de que é tudo separado.
Um recente estudo publicado na
revista Psicothema revelou que mães podem ser as maiores responsáveis por
atitudes sexistas de crianças e adolescentes. Os pesquisadores afirmam que as
mães costumam passar mais tempo com os filhos, determinando, assim, as tarefas domésticas
que eles irão desempenhar, quais presentes irão ganhar e, principalmente, quais
os valores que irão levar para a vida.
"A mídia também influencia
essa formação", lembra a psicóloga escolar Stella Paiva. Ela conta que a
tendência é de que as referências masculinas sejam os super-heróis, dando a
ideia de que os homens são os fortes e poderosos. Já as referências femininas
são as personagens dengosas, carinhosas e que gostam de cor-de-rosa.
"Essas convicções são tão marcantes que acompanham a criança até a vida
adulta", afirma a profissional.
Como a escola contribui?
Algumas escolas montam fileiras
só de meninos e outras só de meninas na sala de aula, não disponibilizam os
mesmos brinquedos para todas as crianças - impossibilitando o menino de brincar
de boneca e a menina de brincar com carrinhos, por exemplo - e até aulas de
educação física são ministradas separadamente para meninas e meninos.
"Há escolas, inclusive, onde
a lista de chamada não é elaborada em ordem alfabética, para que os nomes dos
meninos não fiquem juntos com o das meninas", conta a pedagoga Gabriela.
Nesse caso, é papel dos pais
escolher se essa é a educação ideal para os seus filhos. Se não concordam, o
ideal é conversar com a instituição de ensino ou mesmo trocar a criança de
escola.
O papel do professor
A psicóloga Stella conta que o
professor deve ter a sensibilidade de perceber que essas diferenças exageradas
não precisam existir. Ele jamais pode ter uma visão sexista, afinal, como ele
conseguirá quebrar esses tabus se não concordar com essas igualdades? "O
trabalho do professor é formar o ser humano. Existem diferenças, mas também
existem igualdades, e estas devem ser exaltadas", lembra.
A escola também deve usar
recursos que diminuam essas diferenças. "Se a aula de educação física
oferece o futebol para a menina, por exemplo, isso já abre novas
possibilidades", diz Stella. E o mesmo vale para a o menino que quer
brincar de casinha ou outras brincadeiras consideradas femininas. "O
professor também pode propor atividades em que exista a participação de ambos
os sexos", sugere Gabriela.
Como os pais devem lidar com
isso?
"Mesmo em escolas que não
fazem distinção entre meninos e meninas, há alunos que questionam o fato de
meninas jogarem futebol, por exemplo, ou meninos brincarem de boneca",
conta Stella Paiva. O pensamento provavelmente vem dos pais, que ensinaram os
seus filhos dessa forma.
A pedagoga Gabriela Dalmédico
alerta que os pais não precisam levar tão a sério as "regras" ditadas
pela sociedade. Isso pode gerar comportamentos machistas ou feministas demais.
Vale mais a pena educar os filhos de modo que eles percebam que as diferenças
entre meninos e meninas não precisam ser exageradas.
Desse modo, não é preciso proibir
a criança de algumas brincadeiras que são consideradas exclusivas do sexo
oposto. A psicóloga conta que é muito comum, por exemplo, o filho que tem irmão
menor querer brincar de casinha com ele. Isso pode ser incentivado sem
preconceito.
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