quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Toda Criança pode aprender!


Na famosa obra de Paulo Freire “Pedagogia do Oprimido”, o educador afirma que um dos pilares que devem nortear a comunicação educador-educando é a fé nos homens: “Fé no seu poder de fazer e de refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação de ser mais, que não é privilégio de alguns eleitos, mas direito dos homens”. Alinhando-me com o pensamento do pensador pernambucano, sou da opinião de que este é um dos fatores fundamentais para discernir a verdadeira vocação de educador.

Quem não acredita que qualquer criança pode aprender independentemente de suas condições sociais, econômicas e culturais, é melhor que procure outro caminho de auto-realização profissional. Evidentemente, podem existir fatores inibidores da aprendizagem, mas se a fé na capacidade do aluno for mais forte que esses inimigos educacionais, sempre será possível encontrar alternativas otimistas que os superem. Mas que inibidores são esses que podem afetar o processo de aprendizagem?

Podemos dividi-los em dois grupos: os de ordem macroestrutural e os de ordem psico-pedagógicos. Os primeiros podem ser um sistema escolar inadequado ao alunado; a ausência da boa autoridade do diretor e da autonomia escolar; a omissão dos pais na educação; a lotação causada por excesso de alunos nas salas de aula; disparidades entre as idades dos estudantes e os anos escolares; enfraquecimento da disciplina; ambiente escolar pouco harmonioso; poucas perspectivas de vida dos alunos.

Já os complicadores da aprendizagem de ordem psico-pedagógica se encontram em possíveis deficiências, tanto por parte dos professores quanto dos alunos, nas três fases do processo de aprendizagem: aquisição, retenção e generalização do conhecimento.

Naturalmente, os inibidores do primeiro grupo são, com frequência, responsáveis pelo fracasso na aprendizagem em um grau muito maior do que os do segundo grupo, e são normalmente as principais fontes do desânimo do corpo docente.

Mas perguntemo-nos: o professor que vibra de verdade com a missão de educar e que tem fé na capacidade de todos os alunos de aprender, não poderá suplantar, pelo menos em parte, essas dificuldades da educação, que são mais exógenas, com alternativas mais endógenas? Sou da opinião de que isto é possível. Vejamos como.

Examinando cada fase do processo de aprendizagem, vamos refletir em possíveis estratégias desafiadoras para cada uma. Comecemos como dizíamos, pela aquisição do conhecimento. Obviamente, o pré-requisito sine qua non para que haja sucesso nesta fase é o colégio atrair um bom professor, isto é, alguém com verdadeira vocação docente.

Quando esta existe, o professor, além de sentir a motivação intrínseca de aprofundar sempre mais no conteúdo de sua matéria e de encontrar formas inovadoras de comunicá-lo, tem um olhar antropológico correto e profundo. Sabe enxergar cada criança como única e irrepetível, com seus ritmos próprios, com temperamentos e afetos únicos, com virtudes a potencializar e defeitos a vencer, contando com estratégias de aprendizagem personalizadas.

É verdade que possuir este olhar arguto no meio da dinâmica agitada de uma sala de aula nem sempre é possível. Por isso é muito recomendável que haja um recurso de comprovada eficácia em muitas escolas de sucesso: a chamada preceptoria, atividade de acompanhamento individualizado do estudante por um tutor, em períodos extraclasse, nos quais há oportunidade de conversar com cada aluno em separado, ensinando-lhe os modos de estudar especificamente para cada matéria, organizar melhor seus deveres escolares, esforçar-se por melhorar seu caráter, aproveitar melhor o tempo fora da escola, vencer os defeitos de socialização, etc...

Naturalmente, para atrair e reter um professor deste gabarito, sua remuneração salarial deverá refletir a sua dedicação, pois só assim as verdadeiras vocações docentes poderão desabrochar.
 
Para potencializar a retenção do conhecimento ­— segunda fase da aprendizagem —, o bom professor e o bom aluno não poderão abrir mão de duas coisas essenciais: o esforço do estudo sério e a boa socialização. Por mais que, hoje, as possibilidades dos recursos de comunicação e de informação sejam enormes, não podemos nos enganar pensando que substituirão o homem — pelo menos os homens sérios.

Está mais do que comprovado que a lição de casa composta de uma lista de exercícios das diferentes matérias, de níveis paulatinos de exigência, de leituras substanciais, de pesquisas bem orientadas, promove a retenção do conhecimento em grau muito maior do que a simples utilização de tecnologia.

Já foi evidenciado que feiras, projetos científicos, trabalhos escolares e similares são incomparavelmente mais eficientes na motivação dos alunos e na conquista da maturidade adequada do que horas e horas nas redes sociais ou numa diversão insignificante.

Por fim, é preciso almejar que os alunos conquistem a terceira fase: a generalização do conhecimento. Que saibam relacionar o estudo com o mundo real. Que aprendam a associar as matérias entre si e a ter uma visão de conjunto. Que exercitem o raciocínio lógico e a memória. Que consigam a interiorização dos valores e dos princípios que os ajudará a tomar as decisões acertadas.

Como conseguir todo este bonito ideal? Com exercícios constantes de reflexão e práticas culturais. Não existe nada que favoreça tanto a aprendizagem como a leitura dos clássicos. Nada produz mais fruto intelectual que discutir um filme de conteúdo. Nada enriquece mais o espírito e a transcendência que uma boa visita guiada a um museu histórico de valor.

Como vemos, soluções existem para que toda criança aprenda. O que falta, então? Talvez fé por parte de nossos governantes. Fé nos fins ou nos meios da educação? Opino que nos fins (aprender), porque quando estes faltam nunca se quer os meios!

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