terça-feira, 17 de agosto de 2010

Crianças podem aprender com a "máquina de socialização" chamada TV

Entrevista com Aldo Pontes, 
doutor em Educação pela USP
Luciana Alvarez - O Estado de S. Paulo
As crianças costumam passar horas e horas assistindo à TV. Com a mediação correta e constante de um adulto, esse hábito, considerado ruim por muitos educadores, pode até ajudar na educação, diz o professor Aldo Pontes.

A TV pode ser uma influência positiva na educação?

Com certeza, mas para isso é preciso haver a mediação de um adulto que as auxilie a refletir sobre o que veem, que as mostre outras formas de socialização, que as instigue a vivenciar diversas representações de mundo. Caso contrário, as crianças acabam limitadas ao mundo editado na tela. Não é à toa que se fala em um processo de globalização da infância.

A TV tem se mostrado uma influência positiva na educação?

Se considerarmos apenas a dinâmica do meio em si, não. Sobretudo na limitada programação infantil da TV aberta. Desde os anos 80, quando a indústria cultural começou a conceber o público infantil como consumidor, uma infinidade de programas e produtos passou a ser veiculada para as crianças. Mudaram os formatos, mas o interesse mercantil continua sendo prioridade. Algumas iniciativas louváveis existem, como a programação infantil da TV Cultura, mas não é a regra.

Há uma idade ideal para começar a expor as crianças à TV?

Não sei se uma idade resolveria o problema. Nem tudo que está na programação deve ser consumido pelas crianças, sobretudo as muito pequenas. Mas não é proibindo ou ridicularizando a programação que se contribui para uma relação mais saudável delas com a televisão.

O que os pais devem fazer?

O primeiro passo é dedicar mais tempo para conhecer a programação que seus filhos veem. É preciso entender que a TV é uma referência constitutiva das infâncias contemporâneas. Muitas crianças, por passarem a maior parte do tempo sozinhas ou não terem muito contato com outras crianças, aprendem a ser criança vendo TV. Deve-se mediar a relação delas com essa poderosa máquina de socialização.

Como um pai pode mediar essa relação?

Ele tem de auxiliar a criança a ver a realidade mostrada na TV de outras formas. Por exemplo, relacionar os bichos mostrados em um programa com uma visita ao zoológico ou com imagens de um livro, da internet. Outra ideia é ensinar a criança a suspeitar do que vê, a verificar a informação em outros lugares.

A escola também pode ter esse papel?

A escola precisa se tornar mais atrativa em um mundo de múltiplas possibilidades de interação. Uma prática docente bem planejada, rica em interações comunicativas, pode ser significativa.

PARA ENTENDER

Colégio ignora televisão

Na tese A Educação das Infâncias na Sociedade Midiática: Desafios para a Prática Docente, orientada por Heloisa Penteado, Pontes conclui que as crianças chegam à escola alfabetizadas pelas mídias, mas muitos professores ignoram tal influência.


ALDO NASCIMENTO PONTES
Doutor em Educação e Comunicação (USP), mestre em Tecnologia Educacional (Unicamp), especialista em Didática da Língua Portuguesa (UniSãoLuis), graduado em Letras (UFPA). Pesquisador colaborador dos Grupos de Pesquisa: Infância, Cultura e Arte (UFSC), Formação de Professores e Pedagogia da Comunicação (USP), Ciências e Tecnologias Aplicadas à Educação, Saúde e Meio Ambiente (UEPA)
(Texto informado pelo autor)

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