quarta-feira, 4 de setembro de 2013

EU NÃO VI A LUZ, MAS SEI QUEM VIU.

Certa vez, um sábio imperador convocou os pintores mais talentosos do mundo e lançou o desafio: daria um prêmio fabuloso àquele que fizesse o melhor retrato da paz. Mãos à obra, o resultado foi uma série dos quadros mais incríveis jamais vistos. Dentre eles, o monarca selecionou dois finalistas. 

No primeiro, via-se um lago cristalino, que refletia as montanhas verdejantes à sua volta e os pássaros voando no céu azul. 

Já no segundo, um despenhadeiro erguia-se sob um céu negro, cortado por relâmpagos, enquanto uma cachoeira desabava morro abaixo junto da tempestade. 

Todos se maravilhavam ao ver a primeira obra, já prevendo a sua vitória; afinal, a outra era o oposto da paz.

Porém, para assombro geral, foi justamente a segunda a escolhida pelo imperador, que explicou sua decisão: 

“Vocês não observaram o detalhe mais importante da pintura. Reparem ali”. Todos, enfim, notaram: atrás da cachoeira, saindo das ranhuras da rocha, havia um pequeno arbusto e, nele, um ninho de passarinho – nesse ninho, alheio ao caos reinante, a mãe passarinho chocava seus ovos em paz. “Estar em paz não significa estar onde não há confusão ou dificuldades”, disse o imperador. “A verdadeira paz acontece quando, mesmo em meio a tudo isso, você permanece calmo em seu coração.”

A lenda desse vernissage imperial ilustra um ponto fundamental comum às mais diversas tradições espirituais, e que talvez sirva como um bom ponto de partida para o assunto dessas páginas, iluminação. Ela ensina que, assim como estar em paz não implica estar onde não há confusão, ser uma pessoa espiritualizada, ou “iluminada”, não significa estar isolado das demandas e questões do cotidiano.

A budista Monja Coen, por exemplo, fala de como até uma simples caminhada pode ser um grande exercício de meditação. Você não precisa sentar-se numa almofada de estampas indianas, cruzar as pernas e fechar os olhos. Se, ao caminhar, alguém respira com tranquilidade, prestando atenção aos sons à sua volta, já está em meditação. Simples como isso.

Uma meditação rápida

Agora, em meio a todo esse eterno balança-mas-não-cai, nada melhor do que procurar manter a leveza. Isso é algo que foi destacado pelo Lama Surya Das, um budista americano considerado pelo próprio Dalai Lama um de seus conselheiros. 

No caso da meditação, por exemplo, embora seus benefícios já estejam mais do que comprovados, pouquíssima gente tem a disciplina para meditar, nem que seja ao menos 20 minutos pela manhã. Bom, e qual é a sugestão do Lama Surya Das? 

Em vez de ficar se martirizando por não conseguir meditar, procure fazer pequenas meditações de um minuto, que qualquer pessoa pode fazer em vários momentos ao longo do dia. Pode ser enquanto espera o elevador, parado no trânsito, na fila do restaurante, no banheiro – oportunidades não faltam. Basta fazer uma respiração profunda, relaxar, ouvir os sons ao redor. Um minutinho apenas, e depois é tocar a vida adiante.

Eu só tenho um caminho

Três temas comuns na visão (incrivelmente semelhante) das diversas tradições

ACEITAÇÃO E GRATIDÃO

“Se não tenho plena aceitação de mim mesmo, passo a vida procurando a felicidade fora de mim. A atitude que busco pode ser resumida numa frase: ‘Entrego, confio, aceito e agradeço’”. Professor Hermógenes, um dos maiores difusores brasileiros da yoga

“Sabedoria é ter confiança, confiar que as coisas acontecem como têm que acontecer confiar que, por trás de tudo, existe um movimento superior.” Roberto Otsu, professor de taoísmo.

“Mesmo um evento que normalmente você diria ser uma tragédia pode ser um caminho de crescimento.” Susan e Donovan Thesenga, psicoterapeutas adeptos do Pathwork

“Uma crise pode ser um momento precioso, em que, por causa do sofrimento, sentimos uma ruptura em nossa percepção do mundo e surge uma busca espiritual mais profunda.” Dom Laurence Freeman, monge beneditino.

“Não podemos culpar ninguém quando nos decepcionamos; nosso sofrimento vem de não aceitarmos que as coisas mudem que elas não sejam do jeito que queremos.”
Lama Surya Das, budista

COMPAIXÃO

“Este é o propósito que devemos ter: eu não faço algo pelo outro porque ele vai me achar maravilhosa por isso, eu faço porque é bom fazer, porque é bom ajudar.” Monja Coen, zen budista

“O impulso do herói, e que deve ser o impulso de cada um de nós, não é a autogratificação, é o serviço ao outro.” Robert Walter, presidente da Joseph Campbell Foundation

“A caridade significa a materialização do conhecimento espiritual libertador, transformado em socorro ao próximo. É o caminho de iluminação das pessoas.” Divaldo Franco, médium.

“A vida só acontece quando eu troco influências, quando me envolvo, plenamente, comigo mesmo e com o outro. Quem não se envolve não se desenvolve.” José Ângelo Gaiarsa, psicoterapeuta.

HUMILDADE

“Quando nos conhecemos de verdade, o outro pode pensar o que quiser sobre nós; não ficamos orgulhosos por causa de um elogio nem arrasados ao ouvir algo desagradável sobre nós.” Jean-Yves Leloup, padre ortodoxo.

“Há duas regras para lidar com o estresse. Regra número 1: não se preocupar com ninharias. Regra número 2: tudo é ninharia.” Susan Andrews, astróloga

“A ‘doença do amanhã’ é o que nos mantém passivos. Passamos a vida deixando tudo para o outro dia. Mas será que vou estar vivo amanhã? É essencial nos lembrarmos de que a morte pode ocorrer a qualquer momento.” Artur Andrés, músico.


Extraído da Revista Trip: http://revistatrip.uol.com.br/revista/208/reportagens/eu-nao-vi-a-luz-mas-sei-quem-viu.html

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