quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Viver com criatividade
Autor (a): Sonia Regina Hierro Parolin

“Criar é tão difícil ou tão fácil como viver, e é do mesmo modo necessário”.
Fayga Ostrower

Algumas poucas linhas para escrever sobre criatividade na educação desafiam o próprio tema: o que abordar? O que é criatividade, como ela é processada, ou como estimulá-la em si ou em outras pessoas são enfoques já exaustivamente abordados com excelentes contribuições até bastante criativas.


Convém pontuar a concepção que adoto de criatividade. Parto do princípio que o pensamento não-criador é cauteloso, metódico e conservador. Retém o conhecido e prefere dilatar as categorias já existentes, sem desafiá-las.


“Fazer bem a coisa certa” é um dos fundamentos que traduz essa maneira de pensar e agir. Já o pensamento criador é inovador, explorador, impaciente ante a convenção, atraído pelo desconhecido e indeterminado, pelo risco e incerteza que traduzem. “Revirar as coisas” é a principal dinâmica do pensamento criador.


Contudo, para uma nova ideia ser concretizada, testada e implementada, não poderá prescindir de métodos e técnicas próprios do pensamento mais metódico. Portanto, não são excludentes. Ao contrário, são formas de pensar que se complementam na ação criativa.


O potencial criativo pode ser constantemente dilatado. Quanto mais é estimulado mais se expande. Mas também pode ser comprimido (como uma mola encolhida!) se o ambiente for inibidor, restritivo, pouco acolhedor de ideias, e se os riscos e as incertezas forem adotados como sinais de alerta e contenção para não se avançar na sua exploração.


Fazemos isso constantemente por inúmeros motivos, mas, especialmente, porque é difícil sair da zona de conforto rumo a um mar de incertezas, de novos questionamentos, de uma nova dinâmica de viver. É preciso sentir-se seguro para investir na incerteza e o mundo da exploração das ideias é uma imersão no contraditório, no instável, no volátil, no incerto.


A breve reflexão deste texto trata dos os ambientes de estímulo à criatividade, ou sobre como construímos os “espaços para a criatividade”, em que as pessoas possam sentir-se seguras e encorajadas ao exercício do pensamento criador.


Assim, dois aspectos importantes devem ser considerados: o que compõe um ambiente de estímulo à criatividade e como oferecer condições para que ela se manifeste.


Nenhuma resposta a essas duas questões será completa e suficiente. Ainda bem, pois inúmeras situações imponderáveis, inusitadas, ou antes, impensadas, influenciam a criatividade.


O tema pode ser abordado com base na seguinte reflexão de Ivan Izquierdo (1996): “o cérebro humano alberga certas faculdades que máquina nenhuma possui: a de amar de verdade, a de imaginar de verdade, e a de criar. Não creio que seja possível viver como seres humanos sem essas três capacidades”, comenta o autor.


Ao introduzir o amor no ato criativo, como energia pulsante do desejo e a imaginação como atributo da vida, Izquierdo (1996) faz uso de toda a liberdade acadêmica e sugere que o amor, a imaginação e a criação são uma única coisa. Ainda afirma que “a descoberta científica é um ato criativo em tudo semelhante à descoberta artística”.


Essa possibilidade de transitar livremente e prazerosamente pelos os conceitos do ato criativo afasta a rigidez cartesiana das concepções sobre o funcionamento dos lados direito e esquerdo do cérebro no processo criativo. É nisso que precisamos nos deter para pensar no espaço para a criatividade e o pensamento de Izquierdo (1996).


Por deflagrar o prazer desculpabilizante no processo criativo, transita com o mesmo sentimento de liberdade entre o jogo infantil (pela natural imersão simbólica e espontânea do jogo) e a reflexão madura. Inclusive, Gardner (1996) afirma que o espírito de modernidade incorporou a sensibilidade infantil à maturidade do adulto, ou seja, é a constatação de que o emocional e o racional nunca se desligam das atividades criadoras.


Por isso, a criatividade está sempre presente nas grandes perguntas científicas. É na fronteira da ciência que a criatividade vem realizar indagações sobre as insatisfações com os paradigmas existentes, promovendo a pesquisa para renovação das respostas, numa práxis reveladora de novos níveis de realidade (SANTOS, 1998).


O puro prazer com a atividade em si é apresentado por Csikszentmihalyi (1992), ao referir-se ao estado afetivo de fluxo ou experiência de fluxo (flow), caracterizando a atividade autotélica, que também é associada aos momentos de felicidade. Esse estado de espírito pode ocorrer ao acaso, por alguma feliz coincidência entre condições internas e externas (espaço para a criatividade).


Pode ocorrer, também, como resultante de uma atividade estruturada, da habilidade da pessoa em fazê-la acontecer, ou em ambas as possibilidades, caracterizando a experiência máxima, ou o flow.

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