“Nunca
me hei esquecer como aprendi a ler.
Quando era menina, as palavras
escapuliam-se diante dos meus olhos como pequenos escaravelhos negros cheios de
pressa. Mas eu era mais inteligente do que elas. Aprendi a reconhecê-las apesar
de tentarem escapar-me velozmente. Até que, por fim, consegui abrir os livros e
entender o que lá estava escrito. Sozinha, tornei-me capaz de ler contos,
histórias engraçadas e poemas.
No
entanto tive surpresas. A leitura deu-me poder sobre os contos e de alguma
forma também deu aos contos certo poder sobre mim. Nunca lhes pude escapar.
Isso faz parte do mistério da leitura.
Uma
pessoa abre um livro, acolhe e compreende as palavras e, se a história for boa,
ela explode dentro de nós. Aqueles escaravelhos que correm em linha reta de um
lado para o outro da página em branco convertem-se primeiro em palavras e, logo
a seguir, em imagens e acontecimentos mágicos. Ainda que certas histórias
pareçam nada ter que ver com a vida real, ainda que nos conduzam a surpresas de
toda a espécie e se distendam em múltiplas possibilidades, para um lado e para
o outro, como pastilhas elásticas, no final as histórias que são boas
devolvem-nos a nós mesmos. São feitas de palavras, e todos os seres humanos
sonham ter aventuras com as palavras.


Vivemos
numa época em que o mundo está cheio de livros. Mergulhar nos livros à procura
de alguma coisa, lendo-os e relendo-os, faz parte da viagem de cada leitor. A
aventura do leitor consiste em descobrir, nessa selva de caracteres impressos,
uma história tão vibrante que o transforme como que por magia.
